Questão não é se Brasil será rebaixado. É o tamanho do estrago

Notícia exclusiva por Josué Leonel com a colaboração de Davison Santana e George Lei.

Para muitos analistas, já não há dúvidas de que o Brasil vai perder o grau de investimento que recebeu das agências de rating em 2008. Essa expectativa foi reforçada após o governo admitir que terá déficit fiscal em 2016 e não o superávit previsto anteriormente, de 0,7%. A questão, agora, é como o mercado vai reagir quando a expectativa se tornar realidade.

O risco brasileiro medido pelos CDS disparou e está acima de países que já estão abaixo do grau de investimento. Da mesma forma, aumentou o custo da dívida brasileira denominada em dólar. Esse pode ser um sinal de que o mercado já embutiu o rebaixamento nos preços. Mas alguns analistas consideram que nem tudo foi precificado e pressões adicionais, talvez fortes, não devem ser descartadas.
 

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Bernd Berg, estrategista para mercados emergentes do banco Societé Générale, está entre os que preveem mais pressão sobre os ativos brasileiros quando o País for realmente rebaixado. Poderá ocorrer um “pânico” no mercado, com venda generalizada de ativos brasileiros, diz Berg, que já previa dólar a R$ 4,00 em outubro mesmo antes das mais recentes notícias sobre déficit fiscal.

Berg observa ainda que o receio do mercado é amplificado pelas especulações sobre o enfraquecimento da posição do ministro Joaquim Levy no governo. “Uma saída do Levy poderia detonar uma forte pressão sobre os ativos brasileiros”.

André Perfeito, economista da Gradual Investimentos, avalia que o rebaixamento da nota de crédito do Brasil pode já ter sido antecipada pela bolsa, que já caiu 34% em dólar este ano. No câmbio, contudo, ele prevê impacto adicional, com a moeda subindo para R$ 3,80 ou R$ 4,00. Perfeito lembra que se o real fosse ajustado pelos índices de inflação brasileiro e americano desde 2003, o dólar deveria estar em R$ 5,37.

A curva de juros também não está ajustada, especialmente na “parte longa”, diz Perfeito. Taxas futuras mais longas, hoje pouco acima de 14,2%, poderiam chegar a 15%. “Em momentos de grande pessimismo, o mercado fica pós, e não pré”. O economista observa que a perda do rating é esperada, mas as incertezas, sobretudo políticas, deixam o mercado sensível a notícias negativas. “Dilma perdeu sua capacidade de coordenação política”.

A expectativa de um estrago adicional nos mercados não é consensual. Pablo Breard, do Scotiabank, considera que o mercado “já rebaixou” o Brasil. Isso não quer dizer que ele não esteja monitorando o cenário econômico e político no Brasil. Com as incertezas relativas aos juros do Fed, eleições nos EUA e economia da China, “não vai ser positivo para o Brasil adicionar uma incerteza endógena a um quadro global já volátil”.

Independente de o rebaixamento trazer impacto adicional no mercado financeiro, seu efeito sobre a economia real não deve ser neutro, mesmo sendo um evento esperado. Com o Brasil perdendo o chamado “selo de bom pagador”, tanto empresas quanto o próprio governo brasileiro terão de pagar juros maiores quando captarem empréstimos no exterior. Em um momento em que os juros no Brasil seguem altos, e sem perspectiva de redução no curto prazo, a diminuição da oferta externa de crédito seria mais uma péssima notícia para uma economia já mergulhada na recessão.

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