Rali do início de 2018 enfrenta risco eleitoral

Por Josue Leonel e Patricia Lara.

O mercado brasileiro pega carona no rali dos ativos emergentes e tem uma abertura de ano melhor do que o esperado. A expectativa para o julgamento do ex-presidente Lula, no dia 24 de janeiro, e sinais positivos da economia China, maior parceiro comercial do Brasil, contribuem para a queda do dólar, do risco Brasil e dos juros futuros, enquanto a bolsa atingiu novo recorde histórico. O temor de um rebaixamento do rating soberano também não se materializou. A continuidade do rali da virada, porém, enfrenta desafios ao longo de 2018, como as eleições presidenciais e as esperadas altas dos juros americanos.

“O foco principal do mercado é a eleição. A vitória de um candidato que não toque as reformas será muito danoso”, diz Patrícia Pereira, gerente de renda fixa da Mongeral Aegon Investimentos. 

O debate sobre a reforma da Previdência será retomado em fevereiro, na volta do Congresso. A chance de aprovação é vista como baixa, portanto uma surpresa positiva teria potencial para estimular os ativos – já um novo adiamento pode não trazer solavanco relevante ao mercado. O pior cenário, entretanto, seria o governo colocar a proposta em votação e sofrer derrota, avalia a gerente da Mongeral.

Entre os fatores que embalam o mercado na virada de 2017 para 2018, os analistas destacam a possibilidade de uma segunda condenação de Lula, que tem liderado as pesquisas para presidente. “24 de janeiro vai ser um divisor de águas. Se Lula se tornar inelegível, o centro deve ganhar força e pode mitigar a possibilidade de não aprovação da reforma da Previdência neste ano”, diz Carlos Soares, analista de investimento da corretora Magliano.

Christopher Garman, diretor executivo para Américas da Eurasia, acredita que a decisão do TRF-4 de marcar o julgamento para janeiro, muito antes do previsto, sinaliza que eventuais novos recursos de Lula também terão análise célere. Essa antecipação corrobora a possibilidade de Lula ser afastado do processo eleitoral, mas não elimina os riscos para o mercado, diz Garman.

Segundo ele, o investidor pode estar superestimando o ex-presidente petista como fator decisivo para a eleição. Mesmo com Lula fora, observa Garman, ainda continuarão as dúvidas sobre quem será o candidato que representará o centro e a agenda de reformas e sobre as chances desse candidato vencer em um ambiente de rejeição ao sistema político-partidário pela população. “O problema de viabilidade de uma candidatura de centro reformista permanece.”

O resultado recorde da balança comercial, sinais de melhora das contas públicas e o crescimento das vendas no varejo também são lembrados como fatores que embalam a abertura do ano. Havia ainda o temor de rebaixamento do rating soberano pela agência S&P, o que não ocorreu. “Trabalhávamos com a possibilidade de revisão no fim do ano passado. Foi bem positiva essa não-revisão do rating”, diz Soares, da Magliano.

Assim como o adiamento da reforma da Previdência, a alta dos juros dos EUA também está computada pelo mercado e tende a ter efeitos discretos. Contudo, o impacto pode ser mais severo se coincidir com um quadro de atraso nas reformas e turbulência eleitoral no Brasil. “Os juros nos EUA são um risco a monitorar”, diz Patrícia, da Mongeral.

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