Ratings ESG diferentes estão confundindo investidores de recursos sustentáveis

Por Jacqueline Poh.

Investimentos ambientais, sociais e de governança estão ganhando popularidade não só pelo seu fator otimista, mas também pelo seu potencial em detectar riscos financeiros, que muitas vezes não podem ser identificados nos resultados trimestrais de uma empresa. As ameaças que as mudanças climáticas representam para uma supply chain ou os escândalos que podem surgir de uma discriminação no local de trabalho, podem ter um impacto dramático no desempenho futuro de uma empresa. O problema é que estes riscos são difíceis de medir e raramente são divulgados.

Isto é um desafio para seguradoras, fundos de pensão, family offices e outros grandes investidores que procuram melhorar a sustentabilidade a longo prazo de seus portfólios. Isto também cria uma demanda de serviços de empresas de dados ESG, que fornecem pesquisas e ratings sobre como as empresas estão abordando questões ambientais, sociais e de governança. “Dados e ratings ESG são uma indústria enorme, pois todo mundo vai precisar. E por isso está se tornando predominante”, disse Axel Pierron, co-fundador e diretor da empresa de consultoria Opimas.

Investindo em um futuro sustentável
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Os scores ESG podem desempenhar um papel fundamental ao determinar se gestores de fundos ou fundos negociados em bolsa deveriam comprar uma ação, quanto empresas pagariam por financiamentos e se um fornecedor deveria fazer um lance para um contrato. Também ajudam a verificar se um título é realmente “verde” ou se uma empresa é elegível para um benchmark de ação. Investimentos de cerca de US$30 trilhões em ativos foram baseados em alguma forma de ratings ESG, de acordo com estimativas de um documento da MIT Sloan School of Management, publicado em agosto.

No entanto, as conclusões de diferentes fornecedores de dados e ratings ESG confundem os investidores e são difíceis de comparar. “Eu seria cautelosa ao considerar, exclusivamente, estes ratings”, disse Erika Karp, fundadora e diretora executiva da Cornerstone Capital Group, sediada em New York, uma empresa de consultoria de impacto de investimentos, com cerca de US$1 bilhão de ativos sob gestão.

O mesmo documento da MIT descobriu que em um conjunto de dados de cinco classificadores ESG, as correlações entre os scores de 823 empresas eram de 0,61, em média. (Uma correlação de 1,0 seria igual a 100%). Para uma comparação, os ratings de crédito da Moody’s Investors Service e S&P Global Ratings estão correlacionados a 0,99.

Mona Shah, diretora do Stonehage Fleming Investment Management, um multifamily office com sede em Londres, disse que encontrou vários ratings diferentes ao construir um portfólio de investimentos sustentáveis para clientes e decidiu não confiar neles completamente. “A análise ESG, por sua própria definição, é subjetiva”, ela disse. “Diferentes fornecedores, inevitavelmente, terão diferentes formas de classificar se acreditam que questões sociais são mais importantes ou se dever ser influenciados por pegadas de carbono, por exemplo.”

Pesos diferentes

A concorrência no mercado de ratings ESG está aumentando. Mais de dez empresas terceirizadas fazem este tipo de avaliação, incluindo a Sustainalytics e MSCI Inc., ultrapassando o número de empresas na área de rating de crédito e fundo mútuo. Recentemente, a S&P, Moody’s e a Fitch Ratings entraram neste espaço, adquirindo fornecedores de dados e ratings ESG ou integrando análises ESG em seus ratings de crédito.

Os fornecedores de ratings ESG geralmente calculam scores com a ajuda de dados publicamente disponíveis, incluindo publicações de empresas, notícias e relatórios de organizações não governamentais. Os temas cobertos tendem a refletir os 17 itens no modelo United Nations’ Sustainable Development Goals, que abrangem desde a igualdade de gênero até energia limpa.

Teoricamente, os scores deveriam ser relacionados principalmente aos riscos associados às principais atividades de negócios de uma empresa. Nesse caso, a maneira como um fabricante de alimentos lida com resíduos ou o que uma empresa de transporte está fazendo para reduzir as emissões de carbono, estariam sob um controle mais intenso. No entanto, os métodos para as avaliações variam entre fornecedores. “Essas metodologias são difíceis de entender e fornecedores de ratings ESG poderiam fornecer mais informações para explicar melhor e permitir uma maior transparência”, disse Shah.

(A Bloomberg LP fornece scores ESG com base em dados divulgados por empresas e também oferece dados e ratings de parceiros terceirizados em seu terminal.)

Para dar uma ideia de quanto os ratings podem ser diferentes, olhamos um setor, como da indústria de tabaco, o qual investidores sustentáveis excluíram há anos. Com base nos relatórios de avaliação recentes deste ano, o fornecedor de ratings de sustentabilidade ISS ESG, sediado em Munique, classificou a British American Tobacco PIc como fraca, indicando um risco elevado, enquanto a Sustainnalytics deu à empresa um score de 24,4, que representa um risco médio na sua escala.

“Metade das divergências em geral resulta de diferentes ponderações e a outra metade de diferentes avaliações dentro das categorias”, disse Julian Koelbel, um dos coautores do documento da MIT. “Os resultados e opiniões variam como resultado dessas diferenças.”

Os ratings ESG também provaram ser longe de perfeitos ao detectar uma catástrofe iminente. Um dos exemplos mais importantes é a PG&E Corp. A empresa da Califórnia precisou decretar falência em janeiro de 2019, depois que seus equipamentos foram responsabilizados por dois anos de incêndios mortais que destruíram milhares de casas e empresas e cortaram a energia para mais de 45.000 clientes.

Alguns fornecedores de dados e ratings ESG deram à PG&E bons ratings antes de seu colapso, de acordo com Pierron, da Opima. Pelo menos um fornecedor destacou preocupações de segurança com os equipamentos da empresa de serviço público, antes dos incêndios de 2017 e 2018: Em uma escala de 1 a 5, com 1 representando o risco mais baixo, a Sustainalytics havia classificado a PG&E na categoria de 4 ou superior, em relação à qualidade e segurança após uma explosão na tubulação de San Bruno em 2010.

Buscando uma padronização

Os fornecedores de dados e ratings ESG não são regulamentados, ao contrário de outras empresas focadas puramente em informações financeiras. No entanto, existem esforços para trazer mais transparência e padronização para o setor.

A nova classificação da União Europeia — que deve ser completamente aplicada até o fim de 2022 — irá apresentar requisitos de divulgação para fornecedores de índices e de benchmark que se denominam “sustentáveis” e com outros rótulos. “Os fornecedores deverão fornecer total transparência nos seus índices ESG, principalmente no que disse respeito as metodologias e fontes de dados,e seguir guidelines claras sobre os critérios implementados de acordo com a classe de ativos inclusa no índice”, disse Pierron. “Estas novas obrigações irão orientar o setor para um padrão de qualidade superior.”

No entanto, fornecedores de ratings dizem que seus sistemas só irão melhorar significativamente se as empresas do mundo todo forem obrigadas a relatar dados de sustentabilidade relevantes. A UE atualmente exige que as grandes empresas publiquem regularmente relatórios sobre os impactos sociais e ambientais de suas operações. A China Securities Regulatory Commission está tornando obrigatória a divulgação de riscos ESG para todas as empresas listadas e emissoras de títulos, até 2020. Mas a U.S. Securities and Exchange Commission, a entidade reguladora financeira da maior economia do mundo, não exige a divulgação corporativa de dados ESG concretos.

Embora algumas empresas possam fornecer voluntariamente dados ESG, não há um padrão básico sobre a maneira como isso deve ser feito. “O principal desafio é a falta de coerência nas divulgações ESG pelas empresas”, disse Sylvain Guyton, vice-presidente de pesquisa na EcoVadis, empresa de avaliações de sustentabilidade com sede em Paris.

A Ecovadis está ajudando a Global Reporting Initiative, uma organização independente de normas, a criar guidelines para empresas na divulgação de seu desempenho de sustentabilidade. Um esforço semelhante é o Sustainability Accounting Standards Board, que está desenvolvendo normas sobre temas de divulgação específicos do setor, que podem ter um impacto financeiro sobre empresas e investidores. (Michael Bloomberg, fundador e sócio majoritário da Bloomberg LP, é o presidente emérito da SASB Foundation Board, e outra executiva da Bloomberg, Mary Schapiro, é a vice-presidente.)

“Foram necessários anos para as divulgações financeiras serem padronizadas, então os dados ESG provavelmente vão demorar o mesmo tempo”, disse Guyton.

Entretanto, apesar das discrepâncias de dados e ratings, investidores ainda querem mais informações de ESG, devido aos riscos que estas abordam. Pierron disse que a diversidade atual de dados e ratings “pode ser algo que não seja ruim para o setor”, já que isso pode ajudar a distinguir os pontos fortes e fracos destes fornecedores. “Um fornecedor pode ser mais forte em certas áreas, como emissões de carbono, enquanto outro pode ser mais eficiente na redução de resíduos”, disse ele.

Mais importante, Pierron disse que nenhum investidor quer pensar que estão deixando de obter alguma vantagem. “Você, provavelmente, vai ficar de fora se não usar dados ou ratings ESG disponíveis e se colocar em uma posição desfavorável enquanto seus peers estão todos implementando análises de ESG em sua avaliação de portfólio”, disse ele.

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