Por Cristiane Lucchesi e Filipe Pacheco.
As empresas brasileiras, que acumularam US$ 270 bilhões em dívida externa nos anos nos quais o Brasil foi grau de investimento, estão vendo os custos de rolagem desses financiamentos subirem depois que a classificação de risco de crédito do país foi reduzida para grau especulativo.
O custo da proteção contra um calote do governo, medido pelo spread do CDS de cinco anos, uma referência para determinar o que as empresas brasileiras precisam pagar pelo financiamento externo, subiu 7,5 por cento desde o rebaixamento, para 400 pontos-base, nível mais alto desde 2009. Para piorar, o dólar atingiu o nível mais alto em 13 anos, tornando o principal e os juros dos empréstimos externos maiores quando convertidos em reais.
“Até mesmo empresas muito pequenas e desconhecidas emitiram títulos no exterior quando o Brasil era considerado uma das economias mais promissoras, após a crise financeira de 2008”, disse Salvatore Milanese, sócio da firma de assessoria de reestruturação de dívidas Pantalica Partners, em entrevista, de São Paulo. “Agora, muitas delas estão enfrentando as consequências”.
Na semana passada, a Standard Poor’s rebaixou a nota de risco de crédito soberano do Brasil em um nível, para BB+, e disse que poderia cortá-la mais em resposta à incapacidade do governo de reforçar as contas fiscais em um momento de dificuldades da economia. A presidente Dilma Rousseff não tem conseguido angariar apoio para suas iniciativas de corte de gastos e aumento de impostos em meio a uma investigação de corrupção na companhia petrolífera estatal, e está com popularidade em níveis recorde de baixa.
Os governos federal, estaduais e municipais tiveram aumentos apenas modestos em sua dívida externa durante os sete anos em que o Brasil foi grau de investimento, de 4,5 por cento de dezembro de 2007 a março de 2015, para US$ 69 bilhões, segundo dados do Banco Central. Para os bancos e as empresas não-financeiras, a história é diferente: eles mais do que duplicaram suas dívidas denominadas em dólares, para US$ 154 bilhões e US$ 114,7 bilhões, respectivamente.
“Os investidores e credores sabem que outras agências de classificação provavelmente seguirão a S&P e tentarão se antecipar ao movimento, pedindo spreads de crédito mais elevados agora”, disse John Welch, estrategista do Canadian Imperial Bank of Commerce em Toronto, em entrevista por telefone. “Nós ainda não sabemos quando as coisas se estabilizarão por causa da bagunça política.”
A S&P também rebaixou 13 empresas financeiras do Brasil, afirmando que os bancos detêm valores substanciais de dívidas do governo. A Vale SA, que tem sede no Rio de Janeiro e é a maior produtora de minério de ferro do mundo, manteve sua classificação de grau de investimento. Contudo, após o rebaixamento do Brasil, o custo para proteção contra um calote da Vale subiu 3 por cento, para 525,75 pontos-base, para os contratos de CDS de cinco anos.
Reservas internacionais
A Petrobras, produtora de petróleo envolvida no escândalo de corrupção, foi rebaixada em dois níveis pela S&P, para BB. A Moody’s Investors Service já havia rebaixado a nota da empresa antes. A Petrobras tinha R$ 306 bilhões (US$ 79 bilhões) em dívida externa, ou 74 por cento de seu total, em junho, segundo relatório financeiro. Os CDS da empresa subiram 4,8 por cento, para 771 pontos-base, após o rebaixamento do Brasil.
“O BC terá que continuar indo ao mercado e vendendo reservas internacionais, fornecendo linhas de crédito para ajudar as empresas e os bancos a rolarem sua dívida externa”, disse Welch. Isso pode ser positivo porque “as reservas são muito elevadas e têm um custo para o governo”, disse ele.
A perda do status de grau de investimento do Brasil levará a menos investimentos de empresas brasileiras, disse Ricardo Werneck, CEO da MMX Mineração e Metálicos SA, a empresa de mineração do ex-bilionário Eike Batista. “Ninguém assumirá o risco de investir no país com o aumento do custo do financiamento, independentemente do setor”, disse Werneck.
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