Rebaixamento do Brasil obriga a um ajuste de contas fiscal

Por Mac Margolis.

A decisão do Standard Poor’s de rebaixar a dívida do Brasil para o status de grau especulativo, no dia 9 de setembro, atingiu a classe política do país no lugar certo – direto nas tripas. Durante meses, rebeldes no gabinete da presidente Dilma Rousseff e líderes do poder legislativo fissíparo do país ignoraram os apelos à sensatez fiscal em nome do progresso social e do desenvolvimento.

O resultado foi minar as iniciativas de austeridade do ministro da Fazenda Joaquim Levy, obliterar o superávit primário e levar o governo, pela primeira vez em 25 anos, a desrespeitar abertamente a austeridade fiscal propondo gastar mais do que tem em 2016.

Se o rebaixamento do crédito foi um desastre, como uivaram os líderes da oposição do Brasil, foi um desastre anunciado.

O Brasil enfrenta a recessão mais profunda em 25 anos, a deriva da política econômica e, agora, uma falta de reputação, que ameaçam desfazer anos de prosperidade e avanços sociais.

A linha dura do governo Dilma fez o possível para minimizar o rebaixamento. “Isso não é o fim do mundo”, disse Delcídio Amaral, senador do PT, a jornalistas em Brasília, mas ele teve o cuidado de avisar que o tempo para “testes” e “lero-lero” tinha acabado.

O companheiro deputado José Guimarães, líder do governo na Câmara, foi mais direto: “Você acha que eu estou preocupado com a opinião de uma agência do fim do mundo?”, disse Guimarães na quarta-feira, de acordo com O Globo. O líder de Dilma no Senado, Eunício Oliveira, que é o líder no Senado do PMDB, aliado do governo, apoiou esse sentimento: “Eu não posso acreditar que vocês imaginem que uma agência de avaliação possa derrubar o governo. Essa é uma crise que precisa ser superada”, retrucou a jornalistas em Brasília.

Que diferença em tão poucos anos. Em 2008, quando o Brasil estava com a bola toda e o Standard Poor’s promoveu a dívida do país para grau de investimento, os mesmos representantes do governo estavam entusiasmados. “Se a gente for traduzir isso [o aumento do crédito] para uma linguagem que os brasileiros entendam, é que o Brasil foi declarado um país sério, que tem políticas sérias, que cuida das suas finanças com seriedade e que, por isso, passamos a ser merecedores de uma confiança internacional”, disse o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que posteriormente se tornou o mentor político de Dilma, em um comício na costa nordestina pobre do país.

“Essa é uma vitória para o povo brasileiro, que esperamos durante anos e anos”, acrescentou ele. “É a prova de que passamos a ser donos de nosso próprio nariz e de que podemos decidir quais políticas são melhores para o Brasil”.

Sete anos depois, com a previsão de que a economia vai se contrair 2 por cento neste ano e com a disparada do desemprego e da dívida do consumidor, parece que o Brasil tem mais probabilidade de ser escalado como líder dos mercados “submergentes” e como o homem doente do Brics, o clube dos enormes países em desenvolvimento – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – que outrora eram apontados como motores do crescimento mundial.

Mais esperançosamente, o solavanco no posicionamento internacional do Brasil poderia jogar a favor de Levy, o pressionado ministro da Fazenda que, segundo rumores, estaria se preparando para sair, depois que seus reiterados apelos por parcimônia foram abafados por populistas perdulários em Brasília.

Na quinta-feira, Levy estava de volta: em todos os veículos de comunicação, chefiando uma reunião de gabinete de emergência e proclamando novamente as únicas medidas que poderiam fazer com que o Brasil voltasse a cair nas graças internacionais: impostos e cortes de gastos. “Se a sociedade [brasileira], o Congresso, o governo estão entendendo a seriedade de ter equilíbrio fiscal, é vital para o Brasil ter a confiança das pessoas”, disse ele em um programa de notícias noturno da TV a cabo.

Os observadores externos eram menos otimistas e os analistas da Eurasia Group previam que a queda da classificação poderia levar os parlamentares a uma resistência nacionalista e a aumentar a intransigêrncia política, o que enfraqueceria ainda mais a posição de Levy.

Antes superministro do Brasil, com o prestígio rebaixado, ele sabe muito bem que ter razão não é a mesma coisa que ganhar uma discussão.

Esta coluna não necessariamente reflete a opinião do conselho editorial nem da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Para ter acesso a notícias em tempo real entre em contato conosco e assine nosso serviço Bloomberg Professional.
 

Agende uma demo.