Por Patricia Lara.
A pressão inflacionária causada pela recente desvalorização cambial, por enquanto, está represada. Se ela vai se traduzir em inflação implícita dependerá da execução e velocidade com que as reformas serão conduzidas no ano que vem, diz Fernando Honorato, economista-chefe do Banco Bradesco.
A expectativa é a de que, independentemente de quem ganhe as eleições presidenciais, prevalecerá uma agenda razoável de reformas que possa remover as incertezas sobre a trajetória ascendente da dívida pública, disse o economista de 39 anos em entrevista exclusiva no escritório da Bloomberg na semana passada. “Acho que ninguém deliberadamente quer quebrar o Brasil, não pagar a dívida pública. Execução e velocidade das reformas serão super importantes. Vai ter de juntar boas intenções com ação efetiva.”
No momento, o varejo está absorvendo a pressão de preço no atacado por conta do alto desemprego e atividade econômica fraca, disse Honorato. Mas aparecem em dados como no IPA industrial, onde há componentes ligados a bens que têm paralelo com o IPCA e estão rodando a 7%, 8%, enquanto no IPCA aparecem a 2%. Historicamente, esses preços andam juntos.
Se houver um cenário organizado na economia a partir de 2019 e as reformas avançarem com expectativas ancoradas e hiato do produto que se fecha devagar, a inflação vai ser baixa e talvez nem precise elevar tanto a Selic, talvez nem precise subir, diz ele. O cenário base do banco é de taxa básica a 8% no fim de 2019.
O que ancora o otimismo, segundo o economista, é que os assessores econômicos dos principais candidatos à presidência têm mostrado uma compreensão de que o desafio fiscal é relevante e que precisa ser feito algo. “Há uma predisposição a tentar arrumar a casa”, afirma. A execução é crítica para se conseguir implementar a agenda para qualquer um dos candidatos, pois o Congresso será parecido com o de hoje.
O Bradesco projeta crescimento de 2,5% do PIB em 2019, com a possibilidade de um resultado ainda mais forte, diz Honorato, que foi anunciado como diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do banco com sede em Osasco em janeiro de 2017, sucedendo posto deixado vago por Octavio de Barros.
“Formação bruta está 30% abaixo do ciclo típico de recuperação e as empresas não estão investindo. Há incerteza a respeito de 2019, sem dúvida, mas tem também uma situação de balanço das empresas que só agora começa a limpar”, diz Honorato. Citando dados do Centro de Estudos de Mercados e Capitais (Cemec), economista fala que percentual de empresas que não geram Ebitda para pagar despesas financeiras bateu 50% em 2015-2016 e está bem perto de um terço, cerca de 30% em 2017-2018.
Independente do eleito, é muito provável se observar crescimento do investimento. “Vejo disposição de ciclicamente voltar a acelerar, vejo disposição a conceder crédito, vejo demanda de crédito. Já voltou a ter uma certa demanda na construção civil, que não aparecia havia bastante tempo.”
Cenário alternativo
A situação de contas externas extraordinária não blinda o Brasil para cenário alternativo de um vencedor na eleição não disposto a fazer reforma, o que poderia trazer uma fuga de capitais, avalia.
O contexto externo traz alta dos juros com crescimento cíclico dos EUA e as barreiras comerciais impostas pelo presidente norte-americano Donald Trump. “Isso é choque de oferta, fechando a economia em momento de pleno emprego, vai dar inflação. São duas fontes de pressão do juro norte-americano e isso vai desafiar os emergentes.”
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