Regulamentações complicam ainda mais relacionamento com bancos: Glendinning

Damian Glendinning, vice-presidente e tesoureiro da Lenovo, falou com Jennifer Bernstein da Bloomberg sobre a crescente relação entre os bancos e a tesouraria corporativa. Glendinning também é o presidente da Associação de Tesouraria Corporativa em Cingapura.

P: Você poderia falar sobre a decisão de focar as operações de tesouraria corporativa da Lenovo em um único banco global?

R: Naquele momento, nós tínhamos um período muito curto de tempo para preparar e colocar tudo em funcionamento. Construir interfaces múltiplas para diversos bancos teria sido muito complexo e demorado. Nós tínhamos as informações necessárias no sistema bancário on-line fornecido pelo banco único, sem a necessidade de centros regionais de tesouraria ou um sistema de gestão de tesouraria para a comparação de informações. Também significou que eu fui capaz de obter visibilidade total de nossas contas bancárias desde o primeiro dia. Estou surpreso com o grau de sucesso que obtivemos. Em minha opinião, ter uma relação profunda e sólida com o banco em questão, bem como a redução nas despesas de infraestrutura, compensaram os riscos potenciais de se trabalhar com um único banco. Agora, temos relacionamentos e trabalhamos com outros bancos. Com algumas exceções, todas as contas bancárias e gestão de caixa que não estão localizadas na China são responsabilidade do banco único.

P: As regulamentações bancárias estão afetando as relações corporativas-bancárias?

R: Na Ásia, no momento, não sofremos um impacto significativo, embora haja uma preocupação crescente demonstrada pelos tesoureiros. A necessidade de conhecer o seu cliente acarreta em uma enorme carga administrativa. Sempre que se abre uma conta bancária, é preciso fornecer muitos documentos. O problema é que temos que passar pelo mesmo processo repetidamente quando abrimos contas diferentes. Nós apoiamos totalmente a intenção de garantir a legitimidade de contas e empresas. Mas há um sentimento crescente de que devemos encontrar um método mais rápido e mais inteligente de se fazer isso.

Outra preocupação é a diminuição da liquidez, e há discussões sobre as regulamentações serem o motivo. Se não há liquidez no mercado de títulos, prosseguir pode ser um problema sério. Do mesmo modo, existem alguns mercados de câmbio e de swap em que vejo que a existência de liquidez é um problema. Não acredito que isso nos afete por enquanto e a maioria das pessoas com quem converso diz que isso ainda não as afetou. Apesar de ainda não vermos esse cenário ocorrendo na Ásia, uma das consequências do acordo de Basileia III pode ser a redução na disponibilidade de empréstimos bancários. Em uma reclassificação técnica, os bancos com operações overnight terão que aumentar a quantidade de ativos livres de risco que detêm, pois os depósitos overnight não estarão mais incluídos na lista de ativos seguros que os bancos podem utilizar para as suas reservas mínimas. Os bancos podem potencialmente nos cobrar por guardar nosso dinheiro.

P: O senhor também mencionou a regulamentação de derivativos que restringiu a utilização de determinados instrumentos de hedging.

R: As regulamentações estão sendo definidas, mas este tem sido um processo muito lento. Elas variam de um país para o outro e isso não é conveniente. O contrato a termo de moedas é um instrumento tipicamente utilizado em moedas restritas em que existam controles de câmbio. A maioria das autoridades reguladoras decidiu considerá-lo derivativo, pois não se liquida a moeda subjacente. O propósito da regulamentação é de que um derivativo seja compensado de forma centralizada. O desafio é que, por definição, esses não são mercados com liquidez e uma compensação centralizada exige liquidez. O contrato a termo de moedas (NDF, non-deliverable forward) é uma ferramenta importante de hedging que provavelmente será cada vez mais difícil e já se tornou mais onerosa. Nós temos transações de hedging de moeda em que frequentemente o contrato a termo de moeda é a melhor solução. Já estamos presenciando a queda da liquidez e o aumento da precificação. Este fator dificulta a gestão de risco e faz com que se torne mais caro.

P: A volatilidade do câmbio, sobretudo do iuane, tem sido uma preocupação premente?

R: Uma porcentagem alta de nosso custo é em dólares americanos, enquanto somente uma pequena porcentagem de nossa receita é em dólares americanos. A essência de nosso negócio é que temos que gerenciar o câmbio cuidadosamente em caráter permanente. Quando se tem um grau mais elevado de volatilidade, conforme visto no ano passado ou nos últimos 18 meses, as imprecisões em seus processos se intensificam. O importante é implementar os processos antes de entrar no período de volatilidade.
Até o momento, a volatilidade do iuane é uma inconveniência, mas em termos reais, ela é uma situação controlável quando comparada às flutuações significativas que ocorrem em outras moedas, especialmente euro-dólar, libra-dólar e iene em relação ao dólar. A volatilidade do iuane é bastante divulgada, mas em termos absolutos é bastante reduzida. Futuramente, podemos esperar muito mais volatilidade bilateral da taxa de câmbio iene-dólar.

P: Em uma recente conferência, o senhor criticou a falta de transparência das taxas e cobranças bancárias.

R: De certo modo, fiz esse comentário como uma brincadeira. O ponto fundamental é que os bancos cobram por uma série de taxas de transações que são muito difíceis de controlar. Se um banco cobra uma taxa para o processamento de uma transação isto é na realidade a ponta do iceberg. Mesmo se existir transparência total nas taxas reais de transação, a realidade é que os bancos ganham dinheiro fazendo uma série de coisas que você, como cliente, não conseguirá ver.

P: Existe alguma alternativa viável às transações bancárias tradicionais?

R: Atualmente, a resposta é não. Mas estamos criando um ambiente em que as pessoas começarão a procurar por alternativas? Primeiro, os sistemas de comunicação que utilizamos com os bancos não utilizam todos os benefícios disponíveis. O uso da tecnologia não está onde deveria estar. Segundo, as regulamentações estão fazendo com que seja mais caro e mais difícil trabalhar com bancos. Dizem que uma alternativa nunca existirá, pois os bancos são intermediários confiáveis. E também, no momento em que estes serviços surgirem, as autoridades reguladoras podem aparecer e introduzir as mesmas regulamentações. Tudo isso pode até ser verdade. Mas o setor bancário precisa procurar por novas tecnologias que possam facilitar a transferência de grandes quantidades de informações e obter ganhos de eficiência significativos. Estamos em um setor em que tudo muda rapidamente e se você não se adaptar às necessidades do cliente, alguém fornecerá uma alternativa.
 

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