Por Naomi Kresge.
Anos antes de se tornar um excelente especialista em câncer, Eric Winer costumava economizar dinheiro com sua própria assistência médica convencendo farmacêuticos dos EUA a lhe dar remédios vencidos de graça.
Winer, que sofre de um transtorno hemorrágico chamado hemofilia, sabia que os remédios continuariam funcionando durante um período curto posterior à data de validade oficial. O jovem médico tentava se manter dentro do limite de gasto do plano de saúde e evitar ter de pagar de seu próprio bolso. Décadas depois, ele relembra aquela época angustiante ao tentar entender a disparada de preço dos medicamentos usados por seus próprios pacientes com câncer.
“O câncer simplesmente é visto de forma diferente em nossa sociedade”, disse Winer, 60 anos, estrategista-chefe e diretor do Centro de Oncologia Mamária do Instituto do Câncer Dana-Farber. “Ele causa mais medo. E acho que, de algum modo, os fabricantes desses remédios conseguem se aproveitar disso em termos dos preços que definem.”
A angústia do câncer, somada a preços que passaram dos US$ 200.000 por ano para novos tratamentos revolucionários, deverá dar neste ano aos remédios oncológicos a maior fatia do mercado mundial de fármacos, avaliado em US$ 519 bilhões, eclipsando os remédios contra doenças cardiovasculares e metabólicas pela primeira vez. Embora fabricantes de remédios aleguem que a receita impulsiona as inovações, os custos deixam os pacientes aflitos e criam uma rixa entre fabricantes, autoridades de saúde e consumidores em muitos mercados.
Um exemplo são os novos remédios contra o câncer de pulmão da Merck & Co., da Bristol-Myers Squibb e da Roche. Eles são parte de uma nova classe de tratamento conhecida como imunoterapia, que aproveita células do próprio corpo para combater tumores e encanta médicos com a possibilidade de derrotar uma das causas de morte mais comuns no mundo desenvolvido.
Esses remédios são um divisor de águas para alguns pacientes, porque ajudam a aumentar em mais de duas vezes a expectativa de vida. Eles também são caros: de US$ 12.500 a US$ 13.100 por mês de tratamento. E agora eles estão sendo combinados a outros remédios. A Bristol-Myers estima que um coquetel de seu remédio Opdivo com outro produto imune, Yervoy, para pacientes com melanoma custeentre US$ 145.000 e US$ 256.000 por ano. Ele recebeu “uma redução muito pequena de preço”, disse o diretor comercial Murdo Gordon, porque os pacientes estão sobrevivendo o suficiente para voltar para os checkups anuais pela primeira vez.
“E as pessoas que não têm cobertura?”, disse Winer em dezembro. “Ninguém consegue pagar isso.” Os preços também significam que os médicos precisam se debater ponderando quanto benefício vale o custo, mesmo ao tentar se concentrar em definir quais tratamentos são mais benéficos para cada paciente, disse ele.
A receita global com tratamentos oncológicos de marca poderia crescer 12 por cento e ultrapassar US$ 100 bilhões neste ano, de acordo com estimativas de analistas em uma pesquisa realizada pela Bloomberg Industries, e depois aumentar para cerca de US$ 150 bilhões por volta de 2020.
Remédios novos e caros não deveriam levar toda a culpa, porque pelo menos dois outros fatores interferem. Fabricantes estão aproveitando a onda crescente para elevar os preços também dos tratamentos antigos, e os pacientes com câncer estão sobrevivendo mais tempo, o que significa que eles pagam pelos medicamentos durante um período mais longo.
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