Por Jeff Black.
A política monetária funciona com bastante defasagem. Mas o debate em torno dela acontece em tempo real.
Sem uma “parada brusca”. É este o conselho de Michala Marcussen, economista-chefe global do Société Générale. O presidente do BCE, Mario Draghi, informou que o programa de compra de ativos vai se desacelerar do atual ritmo mensal de 80 bilhões para 60 bilhões de euros (US$ 64 bilhões) a partir de abril e então permanecer neste nível pelo menos até o fim do ano. O consenso entre economistas sondados pela Bloomberg em janeiro é que uma diminuição gradual até zero não começará até 2018, no mínimo.
Mas Marcussen entende que crescimento melhor e alta de preços podem exigir que o processo seja mais rápido.
Dados divulgados nesta terça-feira podem justificar essa postura. A inflação em 12 meses na zona do euro subiu 1,8 por cento em janeiro, superando estimativas da pesquisa da Bloomberg e se alinhando à meta do BCE de pouco abaixo de 2 por cento – caso se sustente neste nível. A taxa de desemprego também foi melhor que o esperado, recuando para 9,6 por cento.
Uma discussão sobre aceleração da retirada do estímulo também tranquilizaria autoridades da Alemanha, que não apreciam a desconexão entre a alta dos preços ao consumidor e os juros fadados a permanecer próximos de zero por mais um bom tempo. O BCE afirmou que não elevará os juros até bem depois de parar de comprar títulos públicos.
E quanto mais durar o QE, mais severa será a retirada, segundo Marcussen, que cita a escassez de dívida pública disponível para compra no futuro.
“A retirada de maneira suave remove o BCE do problema de ser obrigado a parar bruscamente”, ela afirmou em Frankfurt, na terça-feira. Contudo, Marcussen alerta que a recuperação da região pode ser facilmente atrapalhada por um tumulto político – como a antecipação das eleições na Itália ou a ascensão de um governo contrário ao euro na França ou Holanda neste ano. Seria difícil uma retirada gradual de estímulos pelo BCE em um ambiente desses.
Enquanto o momento for favorável, há justificativa para retirar o suporte monetário mais rapidamente.
“Se algo der errado novamente, quanto mais munição tiver sido usada, menos haverá para lutar no futuro.”
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