Revolução de dados ajuda em mistérios aéreos

Por Adam Minter.

Quando um voo 447 da Air France caiu no Oceano Atlântico em 2009, foram necessários dois anos e mais de US$ 25 milhões para que os investigadores o encontrassem. O voo 370 da Malaysia Airlines sumiu em 2014 e ainda não apareceu. O voo 804 da EgyptAir, perdido no dia 19 de maio, está em algum lugar do fundo do Mediterrâneo, mas, enquanto os investigadores não desenterrarem sua caixa-preta, eles não saberão por que o avião caiu.

Todos esses incidentes provocam a mesma dúvida: em uma era de vigilância onipresente e de monitoramento digital, como é possível que os aviões não transmitam os dados do cockpit em tempo real?

Depois que o voo 370 desapareceu, o setor de aviação esboçou uma política para exigir que as empresas aéreas monitorem a localização de um avião a cada 15 minutos. Mas como o setor não conseguiu chegar a um acordo sobre qual tecnologia usar e como fazê-lo, essa política é vaga, controversa e só entrará em vigor em 2021 – sete anos depois do desaparecimento do voo 370.

De certo modo, no entanto, isso não importa.

Durante anos, as empresas aéreas alegaram que o custo de transmitir e armazenar os dados do cockpit seria excessivo, especialmente considerando que as quedas são muito raras. Mas agora, com novos satélites e outras tecnologias que turbinam a internet nos voos, esse argumento está desmoronando rapidamente. Nos últimos dois anos, passageiros de voos internacionais, como eu, puderam pressupor que continuariam conectados a 35.000 pés de altura. As transações com cartões de crédito nos voos são rotineiras. Wi-Fi de última geração possibilita até aplicativos como jogos, a bordo.

Mas banda larga pode fazer mais que simplesmente transmitir entretenimento. Ela também pode enviar informações ao solo, e é aí que as coisas ficam realmente interessantes. A Honeywell Aerospace imagina um futuro em que os aviões transmitem dados sobre suas asas, seus freios e outros componentes, para que problemas de manutenção sejam resolvidos a bordo. O sistema Airplane Health Management, da Boeing, já está solucionando problemas em pleno voo: quando uma tripulação detectou um problema com a temperatura do motor, disse a empresa, “eles começaram a dar meia-volta no ar, mas depois que o AHM interrogou o computador central de manutenção e investigou o histórico do avião, o operador decidiu que o voo poderia continuar”.

À medida que tecnologias desse tipo se aperfeiçoarem, muitas novas possibilidades deverão se abrir. Para começar, as empresas aéreas deveriam poder reduzir atrasos e cancelamentos, operar com mais eficiência e cortar custos estudando como os aviões se saem em rotas e condições distintas.

Elas também deverão poder transmitir dados da caixa-preta. No ano passado, a Qatar Airlines anunciou que iria fazer exatamente isso. Seu sistema, que utiliza banda larga via satélite, envia informações a um centro de controle de voo a cada cinco segundos. A canadense FLYHT Aerospace afirma ter instalado 400 de suas caixas-pretas com streaming, que custam US$ 100.000, para cerca de 50 clientes. O sistema da empresa só se ativa quando o software detecta um problema com um avião, o que economiza banda larga.

Por enquanto, as autoridades reguladoras não emitiram nenhuma norma sobre como administrar os dados transmitidos pelas caixas-pretas. E elas deveriam evitar fazer isso de um modo que paralise futuras inovações. Mas a Organização da Aviação Civil Internacional – uma agência das Nações Unidas que atua como órgão regulamentador mundial de fato – deveria considerar a possibilidade de exigir banda larga via satélite para todos os aviões novos. Também deveria pensar em medidas de segurança, como a melhor forma de separar dados fundamentais do cockpit e os dados da cabine, como o entretenimento. E deverá ser definido um protocolo claro sobre quem tem acesso aos dados transmitidos pela caixa-preta após a queda de um avião.

Enquanto isso, uma revolução de dados está acontecendo nos céus. Ela deverá fazer com que os voos se tornem mais seguros, rápidos e previsíveis para todos. E, o mais importante, ela deverá garantir que nenhum avião desapareça.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

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