ESG: Risco de mudanças climáticas é precificado adequadamente?

Após anos como uma opção de investimento de nicho, ESG ganhou destaque nos mercados de capitais globais. O risco das mudanças climáticas tem despertado o interesse de investidores, particularmente de hedges e seguros, e ao mesmo tempo as oportunidades de investimento que vêm com a transição para energia e tecnologia verdes também têm desempenhado um papel importante. Nesta palestra no seminário Bloomberg Quant (BBQ), Robert Litterman, sócio fundador da Kepos Capital, discutiu a situação do ponto de vista científico e dos investimentos.

Gestão de risco climático: lições do mercado financeiro

Ao longo dos anos, o tópico ‘mudanças climáticas’ foi visto com uma dose considerável de controvérsias, em relação à sua existência, causas e os possíveis efeitos em escala global. Os mercados financeiros têm algo a oferecer na avaliação do risco de mudanças climáticas, uma vez que análises de probabilidades, medidas de risco e valor ocorreram em diversos eventos históricos de mercado. Para as mudanças climáticas, a discussão não pode ser baseada por quaisquer acontecimentos dramáticos ocorridos em escalas de tempo mais curtas (centenas de anos) e, portanto, não há muita percepção empírica sobre caudas ou para onde apontam as probabilidades. No entanto, é importante considerar a distribuição completa dos potenciais resultados; uma gestão de risco prudente requer avaliar tanto as piores hipóteses quanto os cenários plausíveis.

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Outra lição da gestão de risco financeiro é que um risco crescente é uma prioridade urgente. Não considerar o risco em tempo hábil pode causar uma catástrofe, e é melhor se preparar com antecedência do que estar pouco preparado. Além disso, práticas do mercado financeiro podem informar respostas às mudanças climáticas por meio do reconhecimento de que o objetivo da gestão de risco não é minimizar tal risco. Em vez disso, busca categorizar e avaliar os riscos de maneira rigorosa e proativa. No contexto das mudanças climáticas, risco de transição e risco físico são exemplos relevantes. O risco de transição está relacionado com o potencial de uma transição rápida para uma economia de baixo carbono. Isso pode ajudar a antecipar os esforços de remediação do ambiente, mas criará interrupções significativas na indústria, mercados financeiros e vida diária. Os riscos físicos, por outro lado, surgem dos efeitos físicos resultantes do aumento da temperatura e incluem incêndios florestais, derretimento de geleiras e volatilidade incomum nos sistemas climáticos. Do ponto de vista financeiro, os riscos físicos de indivíduos, como proprietários de casas e corporações, são protegidos por seguros, mas mudanças extremas nos sistemas físicos da Terra podem causar impactos crescentes e incontroláveis, com reduções permanentes em nossa qualidade de vida. A única maneira de se assegurar contra esses riscos é desacelerar as mudanças climáticas a partir da redução da quantidade de gases de efeito estufa na atmosfera.

Ao avaliar cenários diferentes em termos de metas, uma métrica é a quantidade estimada de aumento da temperatura nas próximas décadas, vide os esforços concertados para conter emissões. Transições mais rápidas para um ambiente de carbono reduzido estão associadas a impactos físicos mais brandos. No entanto, há uma enorme lacuna entre as políticas atuais e aquelas necessárias para atingir a meta de emissões líquidas zero até 2050. É uma meta ambiciosa e, mesmo se alcançada até 2050, a temperatura máxima provavelmente ocorrerá 10 a 20 anos depois, com possibilidade de danos irreversíveis após isso. A discussão sobre metas está ativa entre empresas, com grande interesse da indústria e de players do mercado financeiro. Litterman foi convidado pelo CFTC a presidir um comitê consultivo que criou um roteiro para gerenciar riscos relacionados ao clima no sistema financeiro dos EUA, com contribuições de proprietários de ativos, gestores de ativos, bancos, companhias de seguros, corporações, incluindo duas empresas petrolíferas, e várias empresas de análise de dados. Diversos especialistas acadêmicos e grupos ambientais também participaram. O relatório resultante de 165 páginas inclui 53 recomendações específicas com materiais de apoio e fornece uma perspectiva detalhada sobre riscos e os próximos passos.

Houve um sério empenho em alcançar um consenso, o que não foi fácil. Mas, como Litterman se recorda: “Conversamos sobre os riscos climáticos. Conversamos sobre dados e tipos diferentes de análise. Conversamos sobre divulgações de risco, e o papel dos reguladores financeiros. Conversamos sobre cenários e testes de estresse e, em particular, falamos sobre como financiar da transição para o zero líquido. Então, discutimos bastante material.” Em que eles concordaram? Primeiro, houve o pensamento comum em torno da necessidade de incentivos apropriados, que estão em falta e são urgentes. “A recomendação que acompanhou isso era bastante clara”, afirmou. “Os Estados Unidos deveriam estabelecer um preço para o carbono. Deve ser justo e eficaz, englobando toda a economia. Se o objetivo é reduzir as emissões conforme o Acordo de Paris, este é o passo mais importante para gerenciar o risco climático e direcionar a alocação de capital apropriada”. Outro conceito-chave é um barômetro de carbono projetado para fornecer uma visão abrangente dos incentivos para reduzir as emissões. Isso inclui não apenas impostos sobre carbono e subsídios a combustíveis fósseis, mas também subsídios para energias renováveis. “Não estamos precificando o risco climático de forma adequada e, enquanto não tivermos sinais apropriados no mercado, o capital não fluirá na direção correta”, afirma Litterman.

Voltando-se ao investimento, ele trabalhou para o World Wildlife Fund, reequilibrando seu portfólio e lidando com ativos ociosos. As estratégias tiveram bom desempenho e ele as adaptou para portfólios da Kepos Capital, onde continuam a prosperar. Em resposta a uma pergunta de Bruno Dupire sobre a importância relativa dos riscos físicos e riscos de transição para os mercados financeiros, Litterman conclui: “Alguns argumentam que um momento Minsky, uma percepção repentina sobre a existência de ativos ociosos fará com que suas avaliações entrem em colapso, mas não acho que os mercados funcionem dessa maneira. Os mercados estão voltados para o futuro; riscos óbvios já foram precificados.” O projeto agora é investigar os riscos menos óbvios das mudanças climáticas e desenvolver formas de mitigá-los.

Lightning talks

Após a curta sessão de perguntas e respostas, Bruno Dupire deu início à uma série de “conversas relâmpago”, apresentações de 5 minutos onde especialistas da indústria, pesquisadores e acadêmicos apresentam uma ampla gama de assuntos para estimular novos pensamentos e interação entre várias disciplinas. Cada apresentação examina a evolução da indústria e serve como um aspecto exploratório essencial da série de seminários Bloomberg Quant (BBQ).

Nesta sessão, Minh Trinh da Rodeo AI/Project Centaurs nos ofereceu dez lições da série de livros The Artificial Intelligence Handbook Series, Lily Gu da Bloomberg apresentou um tutorial sobre redes neurais gráficas, e Mohamed Ndaoud da University of Southern California explicou os benefícios potenciais do overfitting em altas dimensões.

Sobre a série de seminários Bloomberg Quant

A série de seminários Bloomberg Quant (BBQ) é realizada todo mês e abrange uma ampla gama de tópicos em finanças quantitativas. O seminário BBQ é apresentado em formato virtual e programado para acomodar participantes de toda a EMEA e das Américas. Cada sessão é presidida por Bruno Dupire, chefe de Pesquisa Quantitativa da Bloomberg L.P., e destaca um palestrante principal apresentando sua pesquisa atual. Esta apresentação é seguida por várias “conversas relâmpago” consecutivas de 5 minutos cada. Este formato dá ao público a oportunidade de ser exposto a uma maior variedade de tópicos.

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