Risco para Brasil é desacelerar agenda de reformas, diz Itaú

Por Eric Martin e Felipe Marques.

O novo governo tem uma “alta probabilidade” de aprovar a reforma da Previdência, mas precisa avançar com o projeto rapidamente, segundo Christian Egan, head de global markets e tesouraria do Itaú.

“O maior risco para o Brasil está no Brasil”, disse ele, em entrevista no Fórum Econômico Mundial em Davos. “O governo não pode subestimar a urgência da reforma da Previdência, não pode desacelerar essa agenda.”

Egan lista sinais de apoio dados por governos estaduais, que também estão com problemas fiscais, a nova composição do Congresso e a popularidade do presidente Jair Bolsonaro como fatores que devem ajudar na aprovação do projeto. O restante da agenda do governo – que inclui reforma tributária, abertura da economia e privatizações – fica secundário sem mudanças na Previdência, segundo ele.

Dúvidas sobre a capacidade do governo de aprovar a reforma, um tema impopular que se arrasta há anos no Brasil, mantiveram os investidores estrangeiros à margem mesmo depois da vitória esmagadora de Bolsonaro nas eleições de outubro. O sistema político fragmentado e a tentativa de romper com as práticas políticas dos governos passados tornam mais difícil avaliar se a reforma obterá a ampla maioria necessária para avançar – a consultoria política Eurasia vê 40% de chance de decepção.

Mesmo que o Brasil atinja as metas fiscais ambiciosas definidas pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, o que os investidores realmente querem ver é uma mudança na Previdência, segundo Egan.

“No geral, a visão dos investidores em Davos sobre o Brasil é muito positiva”, disse ele. “De fundos de pensão a private equities, os investidores estão basicamente prontos para puxar o gatilho, desde que a reforma seja aprovada.”

Ativos brasileiros tiveram um forte começo de ano apesar do cenário duvidoso no exterior, com recordes na bolsa e o real registrando o melhor desempenho entre as principais moedas. Egan ainda vê potencial de alta para as ações – uma combinação de crescimento dos lucros e taxas de desconto mais baixas – e gosta da parte mais longa da curva das taxas locais, na expectativa de que a curva se achate com a aprovação da reforma.

Em sua primeira viagem a Davos, Egan não se incomodou com o fato de Bolsonaro não ter apresentado quaisquer detalhes da reforma no fórum, ponto alvo de críticas tanto no Brasil como no exterior. Faz mais sentido para o governo mostrar a proposta ao Congresso e aos seus eleitores primeiro, disse ele.

“O governo ainda está aprendendo a se comunicar. É um exercício contínuo que requer alguns ajustes ainda”, afirmou. “O Brasil terá grande apoio do investimento estrangeiro, mas isso depende do avanço da agenda de reformas. A agenda de reformas será um fator muito importante para o crescimento do Brasil no longo prazo.”

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