Robôs monitoram aviões porque faltam controladores

Por Anurag Kotoky e Angus Whitley.

As companhias aéreas têm planos ambiciosos para dobrar a frota de aviões comerciais durante os próximos 20 anos, com a expectativa que o número de passageiros se aproxime de 7 bilhões. O problema é que não haverá controladores suficientes para ajudar esses 44.000 aviões a decolar e aterrissar com segurança.

A escassez de controladores de tráfego aéreo pode limitar a expansão do setor de aviação e o desenvolvimento econômico de países emergentes como a Índia, que quer ativar centenas de pistas em desuso a fim de estimular o crescimento. Há uma solução possível, que parece o sonho de um jogador de videogame: uma parede de grandes telas de TV e tablets controlados por stylus.

Alguns aeroportos estão testando as “torres remotas” da Saab AB e da Thales SA, que possibilitam que controladores monitorem operações a centenas de quilômetros de distância por meio de câmeras e sensores de alta definição. A tecnologia tem sensibilidade suficiente para atravessar neblina e detectar animais selvagens nas pistas e as empresas dizem que essa solução também é mais barata do que contratar pessoas para preencher vagas em aeroportos longínquos ou de menor porte.

Poucas escolas

“Isso pode mudar tudo”, disse Neil Hansford, presidente do conselho da Strategic Aviation Solutions, consultoria localizada ao norte de Sidney, na Austrália. “Existe uma escassez. À medida que a quantidade de aeroportos aumenta, o problema piora.”

E os planos são agir aceleradamente para ampliar a quantidade de aeroportos. No mundo inteiro, projetos para reformar ou construir novos campos aéreos ultrapassam US$ 900 bilhões, de acordo com a CAPA Centre for Aviation, empresa de consultoria com sede em Sidney.

Até 2030, o mundo precisará de mais 40.000 controladores de tráfego aéreo para lidar com esses voos, de acordo com a Organização Internacional de Aviação Civil (ICAO, na sigla em inglês). No entanto, são tão poucas as instituições de treinamento na Ásia — o mercado de viagens que mais cresce –, que a região terá um déficit de mais de 1.000 profissionais todo ano, segundo a ICAO.

Planos descompassados

“Há um verdadeiro descompasso entre os planos das empresas aéreas e os do controle de tráfego aéreo para o futuro”, disse Brian Jackson, diretor administrativo da Ambidji Group, empresa de consultoria de aviação com sede em Melbourne. “O planejamento de infraestrutura leva anos”.

É isso o que a Saab, com sede em Estocolmo, e a Thales, com sede em Paris, estão tentando aproveitar. Essas empresas podem instalar torres repletas de câmeras e sensores que cobrem 360 graus de pistas de aviação para transmitir áudio e vídeo de alta definição a um centro de controle longe dali. Um controlador pode administrar diversos aeroportos de forma remota.

“Pode haver interesse enorme em todos os continentes”, afirmou Dan-Aake Enstedt, gerente da Saab para a região Ásia-Pacífico, em mensagem enviada por e-mail. “Essa tecnologia permite operar um aeroporto que, de outro modo, poderia ser muito caro para manter em funcionamento. Também vai ajudar a aliviar o fluxo em torno dos principais aeroportos à medida que eles se expandirem”.

Implementações

Essa tecnologia já guia os aviões no aeroporto Ornskoldsvik, na região central da Suécia, e os controladores monitoram a atividade mais de 100 quilômetros ao sudoeste, no aeroporto Sundsvall-Timra. Esse foi o primeiro sistema remoto instalado no mundo.

A Austrália testou a torre remota da Saab em Alice Springs, que fica praticamente no centro do continente. O aeroporto, que atende a empresas como Qantas Airways e Emirates Airline, foi administrado a partir de uma torre de controle 1.500 quilômetros ao sul, em Adelaide. A Airservices Australia, órgão governamental que emprega mais de 1.000 controladores, informou por e-mail que considera “avaliar e possivelmente implementar mais esse tipo de tecnologia”.

O aeroporto executivo de Leesburg, no Estado americano de Virgínia, tem 14 câmeras instaladas. A entidade responsável afirma que o conceito conta com o apoio da Associação Nacional de Controladores de Tráfego Aéreo, reduz custos e aprimora modelos de alocação de funcionários.

Oportunidade

No mês passado, a Thales lançou sua versão concorrente, que inclui câmeras de visão noturna, no congresso anual do setor de tráfego aéreo, em Madri. O sistema também pode ser utilizado em zonas de guerra e em “lugares anteriormente ‘injustificáveis’”, afirmou a empresa.

A Saab percebe uma oportunidade na Índia, onde os planos do primeiro-ministro Narendra Modi para fortalecer a economia incluem reativar pistas de aviação remotas para aumentar o tráfego de cargas e passageiros, disse Varun Vijay Singh, diretor de marketing de gestão de tráfego aéreo da unidade indiana da Saab.

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