Rombo de R$ 28 bi afetará holerites da Petrobras por 18 anos

Por Sabrina Valle.

Esqueletos que se formaram dentro do fundo de pensão da Petrobras nos últimos anos deverão perseguir mais de 80.000 trabalhadores da Petrobras por 18 anos.

O plano de saneamento aprovado pela empresa e que deve ser implementado antes do Natal levará a cortes de até 40 por cento nos pagamentos de funcionários da ativa e aposentados para manter a solvência do principal plano do fundo de pensão da empresa, o Petros. 

Os cortes propostos pela Petrobras miram um déficit de R$ 27,7 bilhões acumulado pelo fundo desde 2013, quando muitos de seus investimentos foram prejudicados por escândalos de corrupção e pela crise financeira do país.

Se avalizados pelo governo, os cortes — que variam de acordo com o nível salarial — podem ser iniciados em dezembro. A lei obriga que patrocinadores e empregados cubram o rombo solidariamente depois de três anos de déficit. 

A Petros informou que todos os participantes e aposentados já fazem contribuições mensais regulares para o fundo e que as contribuições adicionais não passarão de 26,9% do salário.

O presidente da Petros, Walter Mendes, argumenta que o fundo pode entrar em colapso e não ter condições de pagar benefícios sem as mudanças planejadas. Já há ações judiciais contra as medidas. Trabalhadores argumentam que a conta é alta demais e que estão pagando por decisões escusas de investimento das quais foram vítima.

“A carga é muito pesada para nós, o preço é alto demais e 18 anos é muito tempo”, disse Sílvio Sinedino, que se aposentou em julho e terá cerca de R$ 3.000 dos R$ 10.000 que recebe da Petros descontados automaticamente do holerite.

Sessenta por cento do déficit de R$ 27,7 bilhões resulta de investimentos em empresas que se tornaram alvos de investigações de corrupção e do impacto da recessão no Brasil, segundo a Petros. O aumento da expectativa de vida dos brasileiros e outras mudanças estruturais respondem pelos 40 por cento restantes.

Colapso temido

A Petrobras, que tem sede no Rio de Janeiro, e sua subsidiária de distribuição de combustível são obrigadas por lei a contribuir com apenas metade, R$ 13,7 bilhões do déficit. O restante fica com os trabalhadores, seja aqueles da ativa que contribuem para se aposentar no futuro, sejam aposentados e pensionistas que já recebem o benefício. Todos os que escolheram pelo plano de benefício definido receberão a mordida.

“Os investimentos não tiveram os retornos esperados pelo fundo”, disse Mendes, que assumiu a função há um ano, ao apresentar o plano de equacionamento.

Sinedino, ex-membro do conselho da Petros e do conselho da Petrobras em vaga representando funcionários, afirmou que as contribuições adicionais deixam o fundo exposto a ações judiciais. A Federação Única dos Petroleiros (FUP), uma das maiores entidades sindicais do Brasil, já entrou com ação civil pública alegando que a cobrança é abusiva e pedindo sua suspensão.

“Isso representa exposição legal, o que não é bom para nenhum fundo de pensão”, disse Sinedino em entrevista.

Aportes dos funcionários

A Petros usou recursos dos funcionários para participar de em uma série de projetos durante o boom das commodities, incluindo um empreendimento de US$ 25 bilhões para a construção de sondas de perfuração para o pré-sal. Desde então, a Petrobras virou alvo da Lava Jato, em que altos executivos da empresa e de fornecedoras foram presos. Ao mesmo tempo, a queda do preço do petróleo forçou a petroleira a reduzir investimentos, afetando ainda mais as empresas nas quais o Petros havia investido.

O plano de redução agora é analisado pelo governo e pelos órgãos reguladores. A aprovação é quase certa, disse Ronaldo Tedesco, membro do conselho fiscal do Petros.

“Tenho certeza de que a Petrobras apresentou o plano somente depois de negociá-lo com o governo”, disse Tedesco, por telefone. “As chances de rejeição são muito baixas.”

A Petros começará a cobrar contribuições maiores 60 dias após a aprovação.

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