Por Christine Jenkins.
As empresas aéreas continuam se retirando da Venezuela, e desta vez têm uma série de queixas, incluindo ocasiões em que funcionários foram mantidos sob mira de armas, roubos de bagagem, manutenção deficiente das pistas de aterrissagem e combustível de avião de baixa qualidade.
A United Airlines, a Avianca e a Delta Air Lines deixaram de voar ou anunciaram sua saída da Venezuela, enquanto outras três empresas cancelaram voos em dias específicos em meio ao caos no país. A associação de pilotos da Colômbia afirma que seus membros que têm voado para a Venezuela estão enfrentando combustível contaminado e atrasos de horas porque a Guarda Nacional está retirando malas dos voos para saqueá-las. Nesta semana, vídeos mostraram o aparente assassinato de um homem no balcão de check-in de uma empresa aérea local no aeroporto.
“Tudo o que faz parte da infraestrutura aeroportuária começou a se degradar”, disse Julián Pinzón, chefe de segurança e assuntos técnicos da Associação Colombiana de Aviadores Civis (ACDAC). “Começamos a ver problemas nas pistas, problemas na pista de táxi, problemas no abastecimento de eletricidade do aeroporto, nos caminhões que distribuem combustível.”
A nova onda de deserções de empresas aéreas surge após a estabilização das rotas depois do êxodo anterior, desencadeado pela interrupção dos pagamentos em dólares pelo governo, e deixa os venezuelanos cada vez mais desconectados do restante do mundo. Um voo para Miami na classe econômica pode custar cerca de US$ 1.000 em um país onde o salário mínimo mensal é de cerca de US$ 20, segundo a taxa de câmbio praticada no mercado paralelo.
A implosão social e econômica do país transformou tarefas simples, como transportar a tripulação aos hotéis, em desafios logísticos. Funcionários que antes passavam a noite em Caracas, a cerca de 45 minutos de carro, passaram a dormir em hotéis próximos ao aeroporto para evitar assaltos na rodovia. Mesmo assim, eles têm sido atacados após minutos fora do perímetro do aeroporto. Algumas empresas aéreas têm levado tripulações para passar a noite em países vizinhos.
A Avianca contratou guarda-costas depois que foram disparados tiros durante o assalto a um ônibus que transportava uma equipe da empresa. O fato de ninguém ter se ferido não foi suficiente para acalmar o nervosismo, e a rota noturna acabou sendo cancelada, segundo a ACDAC.
O tráfego de chegada e partida de Caracas caiu 40 por cento em 2014 após o acúmulo de dinheiro de vendas locais que não puderam ser repatriadas — ainda há US$ 3,8 bilhões que nunca conseguiram sair do país, segundo a Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês). As empresas aéreas que se mantiveram no país conseguiam pagar os custos locais e combustível com bolívares — até que a Venezuela mudou essa regra e passou a exigir pagamentos em dólares.
Algumas aéreas se recusam a jogar a toalha. A American Airlines, que ainda voa a Caracas e Maracaibo, afirmou em resposta a perguntas enviadas por e-mail que não operaria em nenhum aeroporto que não cumprisse os mais elevados padrões de segurança. A panamenha Copa Airlines, que voa a Caracas e a outras duas cidades venezuelanas, afirmou que tem conseguido superar os desafios operacionais e que continua monitorando as condições no país.
O Instituto Nacional de Aeronáutica Civil da Venezuela (Inac) afirmou que não conta com um porta-voz oficial para falar sobre o setor. A Organização da Aviação Civil Internacional, um órgão da ONU, informou que quando visitou a Venezuela pela última vez, há quatro anos, o país obteve “resultados exemplares”.
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