Rumo logística acumula perda de quase 70% na bolsa

Por Gerson Freitas Jr, com a colaboração de Filipe Pacheco e Ney Hayashi.

Quase dois anos depois de dar à Cosan sua aprovação para assumir o controle da maior empresa ferroviária do Brasil, investidores têm pouco a comemorar.

As ações da Rumo Logística, formada em 2014 naquela que foi a maior transação global do setor de transportes naquele ano, vêm amargando o pior desempenho entre as grandes empresas de logística do mundo. Os papéis sofreram uma desvalorização de quase 70% desde que começaram a ser negociados, em abril de 2015, quase um ano após a compra da ALL-America Latina Logística pela Cosan em um negócio avaliado em US$ 4,7 bilhões.

A Rumo, que domina o transporte por trilhos de produtos agrícolas como soja e açúcar, se vê em aperto com uma dívida líquida de R$ 7,3 bilhões em meio a uma crise de crédito no Brasil. Investidores agora questionam se a empresa será capaz de levar à frente seu ambicioso plano de investir R$ 7,4 bilhões para impulsionar seu crescimento.

“A Rumo tem um balanço muito frágil”, afirma Bernardo Carneiro, analista da Brasil Plural. “Em um cenário de aumento dos juros, menor disponibilidade de crédito e queda de apetite pelo risco, investidores estão fugindo de empresas com balanços fracos”.

Procurada, a empresa afirmou que não poderia comentar porque está em período de silêncio devido a um processo de capitalização.

As ações da Rumo caíram 4,7 por cento na segunda-feira, ampliando para 34 por cento a perda acumulada nos primeiros seis dias de negociação em 2016. Desde que começaram a ser negociadas, as ações tiveram o pior retorno entre 60 empresas do setor em todo o mundo com valor de mercado de pelo menos US$ 100 milhões, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Safra recorde

A receita da Rumo cresceu 9,2 por cento nos primeiros nove meses do ano, impulsionada pela crescente demanda do setor agrícola após uma colheita recorde. Em 2016, a produção de grãos do Brasil deverá registrar uma nova máxima histórica, de acordo com estimativas do governo.

Em 2015, a taxa Selic subiu 2,5 pontos percentuais e chegou a 14,25 por cento, a maior em quase 10 anos, à medida que o Banco Central tenta domar a inflação. Cerca de 85 por cento da dívida emitida em mercados locais está ligada à Selic, de acordo com a Anbima. O BNDES é o maior credor da Rumo.

No mês passado, a Cosan e outros acionistas decidiram injetar até R$ 650 milhões para ajudar a fortalecer a posição de caixa da Rumo. Embora a capitalização ofereça um alívio no curto prazo, Carneiro estima que a Rumo precise de pelo menos R$ 2 bilhões para tranquilizar os investidores em relação a seus níveis de alavancagem. Sem o dinheiro adicional, as ações da Rumo continuarão sofrendo.

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