Santander e Aberdeen mantém aposta em dívida local pós-impeachment

Por Filipe Pacheco e Paula Sambo.

Para investidores e analistas que acompanham o Brasil de perto, o impeachment da presidente Dilma Rousseff é praticamente inevitável. Mas o que virá a seguir, pelo menos nos mercados financeiros, não deixa de ser uma incógnita.

Para as duas gestoras com alocação significativa em Brasil, os ativos mais interessantes continuarão sendo títulos de dívida local.

O Santander Brasil Asset Management e a Aberdeen Asset Management, cujos fundos de renda fixa focados em Brasil registraram os melhores retornos neste ano entre aqueles com pelo menos US$ 500 milhões em ativos, dizem que os títulos do Tesouro no mercado local têm o maior potencial de ganhos em um momento em que o vice-presidente busca reconquistar a confiança na maior economia da América Latina.

Embora a maioria dos analistas e dos investidores concorde que não será tarefa fácil, o vice-presidente Michel Temer tem mais capital político que Dilma e já montou uma equipe econômica mais favorável ao mercado. Especulações de que ele conta com os meios necessários para conter o crescente déficit do orçamento, diminuir a inflação e tirar o Brasil de sua pior recessão em um século ajudou a transformar o real na moeda de melhor desempenho do mundo em 2016 e impulsionou o segundo maior retorno entre países emergentes com dívida soberana em dólares.

“Para nós, títulos públicos locais devem continuar atraentes”, disse Eduardo Castro, superintendente executivo de fundos de investimento do Santander Brasil Asset Management. A maior parte do fundo FI Renda Fixa Santander Oviedo, de R$ 6,2 bilhões (US$ 1,8 bilhão), é alocada em NTN-B com vencimento em 2050. “A partir do momento em que vermos reformas estruturais tomarem forma por aqui, o país deve voltar a atrair investidores institucionais”.

É verdade que a saída de Dilma não é exatamente uma certeza. O Senado começa a votar nesta quarta-feira se deve removê-la temporariamente do cargo enquanto os parlamentares avaliam as acusações de que ela adulterou as contas públicas para mascarar o tamanho do rombo em contas públicas. Embora a contagem dos jornais mostre diariamente que a oposição conta com votos mais do que suficientes para retirá-la da posição, nesta semana um obstáculo surpresa provocou pânico no mercado por um curto período, ilustrando a natureza tênue dos ganhos deste ano. Se há um dia em que os mercados brasileiros podem disparar ou despencar, esse dia é hoje.

Uma decisão pelo “sim” no Senado se traduzirá em uma maior confiança por parte de investidores, o que deverá estender os ganhos do real no curto prazo, e tornará títulos locais ainda mais atraentes para estrangeiros, disse Castro. Ele projeta que a moeda terminará o ano com uma ligeira desvalorização em relação ao patamar atual. O Santander Brasil Asset Management estima também que o Banco Central reduzirá a taxa Selic em 3,5 pontos percentuais até dezembro de 2017, aumentando a demanda pelos títulos locais, que pagam as taxas de juros mais elevadas entre os chamados países do G-20.
“O melhor risco-recompensa, sem dúvida, é juros, porque além da política e a agenda de reformas, você também tem a desinflação”, disse Edwin Gutierrez, chefe da dívida soberana de mercados emergentes da Aberdeen Asset Management em Londres, que administra uma carteira de US$ 11 bilhões. O fundo GL-Brasil Bond-A1 de US$ 1,45 bilhão da Aberdeen deu retorno de 19,5 por cento este ano. “Há o potencial para Temer realmente estancar o sangramento.”

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