Por David Wethe.
Para Schlumberger e Halliburton, o caminho para receber pagamento por serviços prestados na Venezuela está cada vez mais demorado e complexo.
A mais recente reviravolta foi a decisão da Petróleos de Venezuela (PDVSA) de dar a alguns fornecedores – incluindo as duas prestadoras – notas promissórias (IOUs) que são basicamente reconhecimento de que as dívidas existem. Este é o segundo ano seguido em que prestadoras de serviços em campos de petróleo concordaram em receber as notas, que representam aproximadamente US$ 2 bilhões devidos.
A decisão abriu um novo debate sobre como lidar com um país que, segundo um relatório financeiro divulgado neste mês, tem US$ 19,8 bilhões em contas não pagas além dessas notas. Em outubro e novembro, o governo venezuelano e a PDVSA precisarão pagar US$ 3,53 bilhões em dívidas para não serem barrados dos mercados globais de títulos. As notas promissórias ajudam a Venezuela a preservar um vínculo crucial com as prestadoras de serviços necessários para continuar produzindo petróleo e manter um fluxo de entrada de dinheiro, disse Tom Curran, analista da FBR Capital Markets em Nova York.
Embora a PDVSA tenha um problema crônico de contas atrasadas desde a crise financeira global, a estatal “mesmo assim reduziu consistentemente (essas contas), ainda que de modo errático e imprevisível”, disse Curran. Mais importante, a PDVSA repetidamente sinalizou a intenção de pagar as dívidas, ele acrescentou.
Os dois lados têm benefícios com as notas promissórias. A Venezuela mantém a conexão com as prestadoras de serviços, que, por sua vez, poderão receber juros sobre as contas não pagas e estabelecem um argumento jurídico mais forte de direito ao dinheiro, de acordo com Brian Youngberg, analista da Edward Jones em St. Louis.
Reservas petrolíferas
A Venezuela é dona da maior reserva de petróleo do mundo e produz um quinto do que produzem os EUA ou a Arábia Saudita. Estatizações e pagamentos atrasados reduziram os investimentos e os trabalhos de manutenção nos campos do país. Manter a ligação com o dinheiro devido a Schlumberger e Halliburton permite que a PDVSA mantenha aberta a possibilidade de revitalização do setor petrolífero no futuro, com ajuda dessas companhias.
“Eles estão tentando”, disse Russ Dallen, sócio-gerente da Caracas Capital Markets, se referindo à PDVSA. A estatal “tem um furacão contra ela, mas continua enfrentando o vento.”
As notas podem colocar as prestadoras de serviços no fim da fila de recebimento do dinheiro da estatal, na opinião de James West, analista da Evercore ISI.
“Uma nota promissória é interessante, mas não sei se coloca o detentor à frente de governos”, ele disse. “Ninguém será pago na Venezuela por muito tempo.”
Representantes da Schlumberger e da Halliburton se recusaram a comentar sobre as notas promissórias.
As empresas divulgaram os acordos financeiros com o “cliente principal na Venezuela” no mês passado, quando apresentaram os resultados do segundo trimestre. Ambas deram baixa contábil no valor dos instrumentos financeiros.
‘Perda grande’
“Quando é preciso marcar isso a mercado, não é bonito”, disse Dallen. “É uma perda grande.”
A nota da Schlumberger representa US$ 700 milhões em contas devidas à empresa, que tem sedes em Houston e Paris. No entanto, a companhia deu baixa contábil de US$ 460 milhões no segundo trimestre por ter aceitado o acordo no período. A nota, com prazo de três anos e taxa de juros de 6,5 por cento, será mantida como disponível para venda, a Schlumberger afirmou em documento submetido a autoridades federais dos EUA.
A Halliburton se recusou a especificar prazo e taxa de juros de sua nota, que não havia sido oficialmente trocada quando a empresa sediada em Houston revelou o acordo no mês passado. A nota representará US$ 375 milhões em recebíveis. Porém, a Halliburton reconheceu perda de US$ 262 milhões após o ajuste para valor de mercado.
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