Se o mercado de opções tiver razão, o resgate das ações da China está condenado ao fracasso

Por Kana Nishizawa.

Os traders de opções nunca estiveram tão pessimistas em relação ao mercado acionário da China, apostando em que o novo esforço do governo para dar apoio aos preços das ações está condenado ao fracasso.

O custo dos contratos baixistas no fundo negociado em bolsa (ETF, na sigla em inglês) China 50 subiu para o nível mais alto frente ao dos altistas desde que eles começaram a ser negociados em Xangai há seis meses. A chamada “skew” (volatilidade oblíqua) também atingiu um recorde para um ETF similar nos EUA, embora as compras do governo tenham levado o índice de referência da China a um rali de 10 por cento nos últimos dois dias da semana passada.

Embora os responsáveis pela política econômica estejam tentando reforçar o mercado antes que o presidente Xi Jinping suba ao palco em um desfile desta semana para celebrar a vitória na Segunda Guerra Mundial, os baixistas argumentam que as avaliações estão altas demais para que o rali dure. Os investidores chineses têm cerca de 5 trilhões de yuan (US$ 783 bilhões) emprestados colocados em ações, e muitos deles estão procurando uma chance de sair, segundo o Bank of America Corp.

“Cada vez menos pessoas são convencidas pelas ‘A shares’ (ações em yuan negociadas nas bolsas de Xangai e Shenzhen)”, disse Tony Chu, gerente de recursos em Hong Kong da RS Investment Management Co., que administra cerca de US$ 20 bilhões. “Afinal de contas, o governo precisa reduzir a intervenção e deixar que uma maior desalavancagem aconteça”.

As opções de venda que pagam por uma queda de 10 por cento no fundo custavam 9,7 pontos a mais do que as apostas em um ganho de 10 por cento nesta segunda-feira, segundo dados da volatilidade implícita nos contratos a um mês. Ainda em 24 de agosto, os contratos altistas eram mais caros. Para o Deutsche X-trackers Harvest CSI 300 China A-Shares ETF, registrado nos EUA, a “skew” atingiu o recorde de 38 pontos no dia 27 de agosto e fechou a semana com 28 pontos.

As medidas de política econômica tomadas pela China na semana passada sugerem que as autoridades estão determinadas a colocar um piso sob os preços das ações. Na terça-feira, o banco central anunciou seu quinto corte das taxas de juros desde novembro e reduziu o montante que os bancos devem separar para as reservas. As compras do Estado na quinta-feira conduziram o Shanghai Composite a um rali de mais de 5 por cento na última hora do pregão, segundo fontes do setor, um avanço que se prolongou para um ganho de 4,8 por cento na sexta-feira.

Intervenção

A intervenção da China faz parte de uma campanha mais ampla para garantir que nada desvie a atenção do desfile de 3 de setembro, um evento que o governo utilizará para demonstrar seu crescente poderio militar e econômico. As autoridades também fecharam milhares de fábricas para reduzir a poluição e ordenaram que alguns veículos não circulem.

Para o estrategista do BofA David Cui, as avaliações das ações e o crescimento dos lucros não são atraentes o bastante para apoiar o mercado na ausência de compras do governo.

As ações nas bolsas da China Continental foram negociadas a uma média de 53 vezes os lucros informados na semana passada. É a razão mais alta entre os dez maiores mercados e mais do dobro do múltiplo de 19 para o Standard Poor’s 500 Index. Os analistas reduziram suas estimativas de lucro das companhias no Shanghai Composite para 2015 em 8,8 por cento neste ano, segundo dados compilados pela Bloomberg.

A queda de US$ 5 trilhões nos preços das ações de meados de junho até a quarta-feira passada prejudicou tanto a confiança que as compras do Estado não bastam para atrair os investidores a voltar, segundo Kenny Tang, CEO da Jun Yang Securities Co. em Hong Kong. Talvez sejam necessários mais cortes nos custos do crédito e nos requisitos de reservas para convencer os fundos a voltarem, disse ele.

“A confiança do mercado continua sendo bastante volátil”, disse Tang. “As pessoas estão preocupadas com que depois da recuperação haja certa pressão para vender”.

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