Por Josue Leonel e Vinícius Andrade com a colaboração de Ana Carolina Siedschlag, Rafael Mendes e Patricia Lara.
Com expectativas unânimes de mais uma redução de 1 ponto percentual da Selic no Copom da próxima quarta-feira, a taxa se aproxima do seu piso histórico e desperta o debate sobre como será o final do ciclo de alívio monetário iniciado há quase um ano. A expectativa de que o Banco Central dará um sinal de desaceleração do ritmo de cortes de juros é majoritária, mas não unânime, e fala atribuída a um diretor do BCrecentemente contribuiu para a visão de alguns analistas de que as taxas poderão ter quedas ainda maiores do que o esperado.
Analistas pesquisados pela Bloomberg esperam redução em 1 pp da Selic no Copom de 6 de setembro, em linha com as apostas no mercado de juros futuros. A taxa básica deve cair para 8,25%, apenas um ponto acima da mínima histórica de 7,25%, atingida em 2012 quando o BC era comandado por Alexandre Tombini, antecessor do atual presidente, Ilan Goldfajn. Para as próximas reuniões, mercado precifica redução do ritmo do alívio monetário, mas se mostra dividido sobre a magnitude do corte em outubro, se vai ser de 0,75 pp ou 0,50 pp.
A taxa real de juros caiu bastante e já está em nível capaz de estimular a economia, mas o BC, assim como o mercado, tem sido surpreendido pelos números baixos de inflação, diz Solange Srour, economista da ARX Investimentos. Quando o país teve Selic em 7,25%, em 2012, foi por período curto e a taxa não refletia os fundamentos da economia. Quadro hoje seria diferente e permitiria juros menores. “Nunca vivemos essa situação antes”, diz a economista.
Desde o Copom de julho, o quadro da inflação continuou benigno, enquanto a atividade seguiu com retomada gradual e a taxa de câmbio permaneceu estável perto de R$ 3,15. As projeções da última pesquisa Focus com economistas do mercado mostraram IPCA de 3,45% em 2017 e 4,20% em 2018, ambas abaixo das já reduzidas projeções feitas pelo Copom de julho, respectivamente de 3,6% e 4,3%.
Um corte da Selic de 1 pp na próxima semana “é consistente com a comunicação do BC” e com a realidade macroeconômica, diante de uma inflação bastante controlada, expectativas ancoradas e dinâmica de crescimento ainda relativamente fraca, diz Alberto Ramos, economista do Goldman Sachs. Tatiana Pinheiro, economista do Banco Santander, destaca que, da última reunião para cá, a inflação seguiu em desaceleração, com desempenho bastante favorável dos preços de serviços, e os sinais não mostram atividade em ritmo de recuperação forte.
A ideia de que o Copom deste mês marcará o fim da linha para as reduções mais expressivas, de 1 pp, da Selic, é defendida largamente no mercado, embora não seja opinião unânime. A percepção é de que estamos chegando perto do final do ciclo de cortes, observa Flavio Serrano, do Banco Haitong. Para Italo Lombardi, estrategista do Credit Agricole, o comunicado do Copom deve dar indicação de que o Banco Central está começando a desacelerar o passo.
O mercado ainda trabalha com uma espécie de “escadinha” para as reuniões seguintes do Copom, projetando cortes 0,50 pp em outubro e 0,25 pp em dezembro, mas, recentemente, apostas em uma redução maior foram reforçadas com a melhora das expectativas inflacionárias. Também contribui para isso o fato de o diretor do BC Carlos Viana ter sinalizado, em reunião com economistas, que não necessariamente o BC precisaria encerrar o ciclo de forma gradual, segundo relatou o jornal Valor.
Para Patricia Pereira, gerente de renda fixa da Mongeral Aegon, há chances de o BC dar dois cortes seguidos de 1 pp e deixar a Selic abaixo de 7%. Ela lembra que o mercado estava esperando pressão inflacionária vinda dos combustíveis e energia, mas as coletas de preços mostram uma “desinflação disseminada”, com risco “muito considerável” de um IPCA abaixo dos 3% no ano. Ela cita ainda o quadro externo benigno e lembra que, apesar de a reforma da previdência não ter saído, a aprovação da TLP e a reforma trabalhista já são significativas. “Há cada vez mais argumentos para o BC continuar o passo.”
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