Por Josue Leonel com a colaboração de Patricia Lara e Ana Carolina Siedschlag.
Duas semanas após o mercado brasileiro viver seu pior dia desde a crise global de 2008, o Banco Central deve anunciar no encontro do Copom que termina nesta quarta-feira o corte da taxa de juros para o menor nível desde janeiro de 2014. Caso se confirme esta expectativa, compartilhada por nove entre 10 analistas pesquisados pela Bloomberg, o saldo ainda será positivo para o BC, que terá conseguido manter o ritmo de corte de 1 ponto percentual da Selic apesar da crise política gerada pela gravação das conversas entre o presidente Michel Temer e o empresário da JBS Joesley Batista.
A manutenção do corte de juros, permitida pelos índices baixos de inflação e atividade, não pode ser confundida com a ideia de que a crise política não afeta, ou afeta muito pouco, a economia. O mercado chegou a prever que a Selic cairia a até 10% já neste Copom, mas passou a ver um corte menor, para 10,25%, com o receio de que a inesperada turbulência da última semana prejudique a aprovação das reformas.
Os investidores também consideraram que o BC passou a contar com um espaço menor para o corte total dos juros, diz a economista Solange Srour, da ARX Investimentos. Ela reviu de 7,5% para 8,5% sua previsão para a Selic no final do ciclo de alívio monetário, diante da ameaça de o governo perder força para aprovar as mudanças constitucionais, sobretudo em relação à Previdência.
O próprio BC já afirmou que a taxa de equilíbrio da economia depende das reformas, o que significa que, sem mudanças que melhorem as contas públicas e aumentem a eficiência da economia, os juros não serão tão baixos quanto se pensava. E a possibilidade de o Congresso aprovar uma reforma menos ambiciosa pode não ser a solução. “Uma reforma muito enfraquecida não terá o mesmo efeito para a taxa de juros”, diz a economista.
Diante do aumento da incerteza política, os economistas de instituições do mercado acreditam que o BC fará alterações no comunicado da decisão desta quarta, deixando claro que o espaço para o corte dos juros depende da perseverança do Congresso e do governo na trilha das reformas. Os membros do Copom devem sinalizar no comunicado que os riscos aumentaram, dizRodrigo Melo, economista-chefe da Icatu Vanguarda. “Eles precisarão reconhecer isso.”
“A chance de aprovação da Previdência na Câmara no primeiro semestre é pequena”, diz Leonardo França Costa, economista da consultoria Rosenberg. “O presidente parece ter 170 votos para sobreviver, mas não os 308 para passar a reforma.”
No curto prazo, a inflação sob controle e a atividade, que ganha viés adicional de queda com a crise política, mantêm o espaço para corte de juros. “BC deve manter projeções bastante favoráveis para a continuidade do ciclo”, diz Melo, da Icatu.
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