Por Olga Tanas e Natasha Doff com a colaboração de Aline Oyamada.
Os julgamentos proferidos pelas agências de classificação de risco neste ano sugerem que a excepcional semelhança recente entre a Rússia e o Brasil não deve durar.
Dois dos maiores mercados emergentes assumiram uma trajetória semelhante após a recessão em 2015-2016, voltando a crescer no ano passado e deixando a inflação abaixo de 3 por cento. No entanto, enquanto a S&P Global Ratings acaba de conceder à Rússia seu primeiro upgrade desde 2006, tornando-se a segunda avaliadora de risco a classificá-la acima de junk, a nota do Brasil foi reduzida duas vezes em 2018. Tanto a Fitch Ratings quanto a S&P agora colocam a maior economia da América Latina três degraus abaixo do grau de investimento.
“Os investidores definitivamente veem a Rússia como um risco menor”, disse Kieran Curtis, gestor de recursos da Aberdeen Standard Investments em Londres, que gerencia cerca de US$ 14 bilhões. “Em termos fiscais, há uma enorme diferença entre o Brasil e a Rússia. Em um dos países, o balanço do governo já se recuperou do choque do preço do petróleo.”
As agências de classificação de risco observaram isso e ampliaram o diferencial entre a nota soberana dos dois países ao máximo em mais de uma década. Dado o poder do presidente Vladimir Putin sobre a política russa, seu governo conseguiu deter os gastos apesar da recessão, levando o déficit a 1,5 por cento do produto interno bruto no ano passado. Mas a política fiscal do Brasil sofreu com o que a Fitch chamou de “mal-estar político contínuo”, e o déficit orçamentário foi de mais de 8 por cento em 2017.
Os upgrades são “uma recompensa para a política fiscal ortodoxa da Rússia — e um resultado positivo que Putin merece por ter usado seu capital político para sustentar essa abordagem fiscal”, disse Charles Robertson, economista-chefe global da Renaissance Capital em Londres. “A melhoria da direção da classificação na Rússia deve significar que os mercados podem ter mais fé também no rumo da inflação, pois a fraqueza fiscal geralmente está associada a um desempenho ruim da inflação no futuro.”
Fitch e S&P destacaram o fracasso do presidente Michel Temer em levar adiante sua agenda de reforma fiscal. O governo descartou neste mês um plano para votar a polêmica reforma da previdência depois de lutar durante meses para conseguir apoio suficiente. A eleição de outubro no Brasil é outra complicação, e alguns investidores estão irritados com o fraco posicionamento de candidatos favoráveis ao mercado nas pesquisas de opinião.
O custo de assegurar os títulos soberanos russos contra o calote caiu para o menor em 10 anos desde que o país se recuperou da queda do petróleo. Os swaps de crédito russos agora estão sendo negociados com um desconto de quase 50 pontos-base em comparação com os títulos brasileiros.
Além disso, Putin enfrenta poucos obstáculos para conquistar mais um mandato de seis anos na eleição que será realizada no próximo mês. Apesar da recuperação dos preços do petróleo bruto, o governo da Rússia manteve uma posição conservadora, usando um mecanismo fiscal destinado a isolar o rublo e a economia dos altos e baixos do petróleo e estipular um teto para os gastos.
Segundo a Fitch, o Brasil enfrenta uma carga de dívida governamental “alta e crescente”, e a agência prevê que essa carga continuará crescendo após atingir 80 por cento em 2019, contra 74 por cento no ano passado.
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