Sergio Karlezi do Banco do Chile: Quando o mundo financeiro e o digital se cruzam

“O seu sucesso também será da sua equipe, e você deve ter a tranquilidade para delegar e confiar que eles farão da melhor forma.”

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Sergio Karlezi

Treasury Division Manager | Banco de Chile, Chile

Quando o mundo financeiro encontra o digital

Dois anos atrás, Sergio Karlezi estava trabalhando no seu computador e, por alguns minutos, não tinha ideia do que estava acontecendo: O Banco de Chile, naquele momento, era alvo de um ataque cibernético.

“Tivemos que tomar decisões imediatas, com pouquíssimas informações, para poder manter todas as operações em funcionamento”, disse o gerente de tesouraria do maior banco do Chile. “Nos sentimos como no seriado do Chapolin Colorado, levantando as mãos pro céu e pensando ‘Oh, e agora? Quem poderá nos defender?’”

De acordo com o executivo, este foi o momento mais marcante dos seus 25 anos no mercado financeiro, mesmo considerando as muitas situações críticas que presenciou, tais como as várias crises da NASDAQ, terremotos, greves, os ataques de 11 de setembro e a atual pandemia do coronavírus (COVID-19).

“Tudo isso torna o trabalho muito desafiador”, diz o executivo formado em engenharia civil industrial pela Universidade de Santiago do Chile.

“No dia do ataque cibernético, tivemos que improvisar e inovar de forma imediata. Graças a uma equipe que conhecia muito bem seu trabalho, mesmo sabendo que estávamos diante de uma situação para a qual não havia um protocolo ou diretriz a seguir, fomos capazes de manter nossas operações em funcionamento”, comentou, emocionado, no seu escritório na capital chilena.

Em comparação com outras crises, esta foi única porque nenhuma outra instituição estava sendo afetada ao mesmo tempo que o banco. Foi uma luta solitária, do ponto de vista da instituição. Mas, embora tenha sido um longo processo, foi uma satisfação enorme para todos os envolvidos conseguir manter a operação funcionando durante a crise. “No mercado financeiro, enfrentamos algo novo todos os dias, e devemos estar preparados para qualquer surpresa”, diz ele.

Adquirindo experiência

No entanto, não foi por coincidência que Karlezi foi capaz de superar um desafio como este. Karlezi começou no Banco de Chile como um “soldado raso”, percorrendo um longo caminho até chegar a esta importante posição no coração do banco. O trabalho nos departamentos de câmbio, derivativos e renda fixa lhe proporcionou uma visão diferente do negócio, pois pode conhecer o banco de forma completa.

“É um processo de aprendizagem contínuo. Você vê o mundo mudar e se adapta. Tive a sorte de ter sempre alguém inteligente do meu lado ao longo do caminho”, acrescenta.

O fato de ter “lutado em várias trincheiras” do banco também facilita o processo de delegar tarefas e capacitar pessoas. “Quando se constrói uma carreira em um único setor – o financeiro, no meu caso, é importante transmitir seus conhecimentos por meio de exemplos.”

Ele também destaca a importância de ter empatia no ambiente de trabalho e se preocupar de verdade com as pessoas que fazem parte da sua equipe. “Seus funcionários são fundamentais para o seu sucesso. É preciso ser capaz de delegar, sem se preocupar, e confiar que farão um bom trabalho”, sugere.

“Você passa a maior parte de sua vida no trabalho, então, aproveite este tempo! O ideal é criar um ambiente agradável, no qual todos se sintam bem. Ao fazer isto, as pessoas colocam cuidado e dedicação em cada atividade e aí o sucesso é garantido”, assegura.

Defensor da inclusão e da diversidade, Karlezi tem uma equipe com membros de diferentes personalidades e formações profissionais. “Conhecer outros pontos de vista é fundamental e, valorizo a diversidade – trabalho com pessoas de 25, 30, 50 ou 55 anos e de diferentes universidades”, diz ele.

Esta perspectiva não é apenas um resultado da sua carreira, mas também da sua experiência de vida pessoal. Quando estava na universidade, Karlezi considerou trabalhar no setor industrial ou de mineração, e era fã de matemática e história, mas um dia fez um estágio no Banco de Chile. “Eles me pediram para ficar, e eu fiquei.”

De uma família de imigrantes croatas, seus estudos universitários começaram na Venezuela, em uma escola que ele descreve como “um pouco elitista”, mas quando chegou ao Chile, continuou seu curso em uma universidade pública. “Foi uma experiência de vida que me permitiu comparar os dois mundos, me ensinou a ver todo tipo de realidade, e ajudou a me tornar quem sou”, acrescenta.

A relevância do mundo digital

Ainda que o ataque cibernético tenha mostrado um lado ruim do mundo digital, Karlezi diz que se não tivesse ingressado no mercado financeiro, teria adorado trabalhar em tecnologia.

“Sou fanático pela Apple e admiro Steve Jobs porque ele é o responsável por todas estas mudanças. Eu morava nos Estados Unidos quando o iPhone foi lançado, e mudou minha vida porque eu podia ouvir música no caminho para o trabalho – de Connecticut para Manhattan – todos os dias”, lembra.

“O mundo da tecnologia me fascina, além de ser muito semelhante ao mundo financeiro.”

Com relação ao setor bancário, ele diz que há muito espaço para crescer e inovar no campo da digitalização, especialmente em termos de qualidade de serviços. “Porque acredito que o foco dos bancos deve ser o cliente”, afirma.

“Já existem serviços como ApplePay ou Google Pay, aplicativos que lidam com muito mais dinheiro em contas correntes do que os bancos – portanto, estes últimos devem se adaptar a esta mudança”, sugere.

Karlezi acredita que o setor bancário deve se concentrar na inovação de serviços em vez de apenas na inovação de produtos. “Somos bons em emprestar dinheiro e cuidar dos depósitos de nossos clientes; temos os produtos certos que já foram testados, desenvolvidos e funcionam plenamente. Então, o ponto agora é como vender estes produtos de uma forma mais eficiente para seus clientes”, destaca.

A situação atual, na qual a adoção digital avançou vários anos devido ao confinamento gerado pela COVID-19, destacou a importância do setor tecnológico e que praticamente não há mais fronteiras. Os bancos devem aprender bem esta lição.

“Quem vai querer ir a uma agência bancária em alguns anos? Eu vou para a agência porque eu trabalho no banco, mas não vou ‘ao banco’ – realizo todas as minhas operações pessoais via aplicativos. Há o elemento do hábito, porque muitas pessoas gostam de ir ao banco. Mas, em 15 anos, as pessoas que agora têm 20 terão 40 anos e estarão completamente digitalizadas”, alerta.

A comunicação presencial ainda é a melhor

Karlezi diz que, embora a comunicação de hoje esteja ocorrendo principalmente via plataformas como Instagram ou Facebook, no final a sociedade vai retomar o contato direto e a comunicação pessoal.

“Eu diria aos jovens de hoje para manter o equilíbrio e continuar a se comunicar diretamente, pois falar com alguém olhando em seus olhos, torna tudo diferente. Compartilhar problemas quando estamos frente a frente com o outro é muito mais eficaz.”

Em uma posição como a de Karlezi, manter-se bem informado é fundamental. Entretanto, ele evita as mídias sociais. “Há opiniões demais; você lê uma notícia e há muitos comentários de outras pessoas. Não tenho muito tempo para isso. As informações disponíveis nas mídias sociais têm base em julgamentos e opiniões em vez de fatos”, diz.

“Não tenho dúvida de que estou perdendo muitas coisas que estão acontecendo (nas mídias sociais), mas para me manter informado sobre o que é relevante para mim, prefiro utilizar as notícias digitais. Meu iPad está repleto de assinaturas, como Financial Times, Wall Street Journal, Mercury e outras mídias, como por exemplo, a Bloomberg. Desta forma, elimino os comentários de outras pessoas.”

Para as pessoas que estão apenas começando suas carreiras, Karlezi recomenda serem ousados e tomar decisões, fazer coisas novas, jogar, inovar e não ter medo. “Isto o torna mais forte. Você tem que se lançar no mundo e passar pelo processo todo. Se sente que deve assumir um risco, vá em frente! Depois, quando tiver 58 anos e cinco filhos, e tiver que pagar a escola, precisará ser mais cuidadoso com seu patrimônio”, diz.

Ao mesmo tempo, o executivo aponta que essas experiências ajudam a criar as habilidades que hoje são extremamente valorizadas no mercado de trabalho. “Hard skills em áreas como matemática ou tecnologia podem ser adquiridos facilmente – como ocorre com as commodities. Por outro lado, os chamados soft skills só se desenvolvem ao longo da formação e da experiência de vida, e isto leva tempo”, destaca.

Seu conselho para novas gerações é que tenham claro o que desejam, e busquem por uma carreira na qual acreditem que terão satisfação profissional. “Se você gosta de matemática, pode ser algum tipo de engenharia; se você gosta de história, algo como advocacia. O importante é que a carreira esteja de acordo com seus talentos e personalidade, caso contrário, se frustrará.”

Em resumo: Karlesi, um apaixonado pela tecnologia, sabe que as melhores interações são aquelas fora do mundo digital e com foco no ser humano.

Isenção de opinião: Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião da Bloomberg.


A Bloomberg convidou os “<GO> GETTERS” do mercado financeiro na América Latina a compartilhar os insights mais significativos de suas carreiras, descrevendo os sucessos alcançados e os desafios que enfrentaram no percurso, tanto como testemunhas do desenvolvimento deste ambiente acelerado quanto como contribuintes ativos de sua evolução, criando novas ferramentas, compartilhando melhores práticas e inspirando mudanças.

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