Sete anos de seca aumentam debate sobre transgênicos no Chile

Por Eduardo Thomson.

Durante anos, o Chile teve um curioso duplo padrão em relação aos organismos geneticamente modificados (GM). O país é potência global na produção de sementes GM – mas elas são estritamente proibidas para os agricultores locais. Se eles plantarem qualquer uma para o mercado local, a polícia agrícola pode multá-los.

Agora, essas políticas confusas podem estar sob nova pressão da seca mais impiedosa da história do Chile. Essa seca travou o crescimento da vegetação, arruinou as colheitas e provocou enormes incêndios que começaram na semana passada, cujas chamas engoliram mais de 160.000 quilômetros quadrados de florestas e pastos ao sul de Santiago, inclusive na região vinícola de Maule.

É claro que as plantas modificadas para resistirem às secas não são uma panaceia. Mas o setor agrícola, que exporta cerca de US$ 9 bilhões em produtos por ano, “poderia enfrentar uma catástrofe se não fizermos algo”, disse Simón Ruiz, professor da Universidade de Talca e pesquisador de sementes geneticamente modificadas.

A seca, em seu sétimo ano, não dá sinais de acabar. “Tudo indica que o Chile terá cada vez menos chuvas e temperaturas cada vez mais altas”, disse René Garreaud, climatologista da Universidade do Chile. “Faz sentido trabalhar para adaptar as sementes que plantamos.”

O governo chileno dá sinais ambíguos há muito tempo. Em 2001, a agência que supervisiona a agricultura decidiu permitir o cultivo de sementes geneticamente modificadas para a exportação. No fim de 2015, havia mais de 9.000 hectares de plantas produtoras de sementes geneticamente modificadas no Chile, gerando produtos para empresas como Bayer e Dow Chemical. O país é o quinto maior produtor de sementes transgênicas do mundo e o maior exportador do hemisfério sul.

Projeto engavetado

Um projeto de lei que permitiria que todos os agricultores plantassem sementes geneticamente modificadas para uso doméstico está engavetado no Congresso há 10 anos. “Os políticos daqui têm medo de terem seus nomes ligados a uma tecnologia que alguns grupos demonizam injustamente”, disse o chileno Daniel Nocero, fellow de Bioquímica da Cornell University e membro da Alliance for Science da Cornell.

Há dezenas de grupos assim, entre eles Chile Sin Transgénicos, Chile Sustentable y Yo No Quiero Transgénicos en Chile, todos eles ativos nas redes sociais e com simpatizantes de alto perfil como o ator Daniel Muñoz. Eles afirmam que as plantas modificadas são prejudiciais para o meio ambiente e para quem as come, e querem que o Chile imite o Peru, que em 2012 impôs uma moratória de 10 anos para os alimentos transgênicos, ou como o Equador, cuja Constituição os proíbe.

As possibilidades de que isso aconteça são escassas porque a exportação de sementes geneticamente modificadas é um negócio grande e crescente, com US$ 314 milhões em exportações no ano passado. Também não é provável que o Chile veja alguma diminuição das temperaturas ou um aumento da quantidade de chuvas, disse Gabriel León, pesquisador da Universidade Andrés Bello, que apoia o fim da proibição doméstica.

“Vai haver mudanças drásticas nas condições agrícolas do Chile, isso é inevitável. E a única coisa que nós vamos fazer é nos acostumar com isso?”, disse ele.

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