Simpósio Corporativo 2016 discute cenário de crédito para retomada econômica

Na reta final de um ano conturbado no cenário econômico e político nacional e marcado por incertezas globais como o Brexit, o ciclo de juros e a eleição presidencial nos EUA, o Simpósio Corporativo Bloomberg 2016 debateu a piora da situação de crédito para as empresas no Brasil e as alternativas que se colocam para uma retomada em 2017. O evento foi realizado em 30 de setembro na sede da empresa, no Itaim Bibi, em São Paulo.

Nas diversas palestras e no painel com profissionais de renome nas áreas corporativa, financeira e de órgãos governamentais, predominou o tom de ceticismo em relação à recuperação da atividade econômica e das contas públicas, mas foram discutidas as alternativas de acesso a crédito pelas empresas a custo acessível em um ambiente de demanda retraída.

Alexandre de Mello, especialista de mercado de renda fixa e risco da Bloomberg, fez uma retrospectiva dos últimos dois anos, mostrando as tendências de queda da concessão de crédito, postura mais rígida dos bancos na concessão de empréstimos e alta da inadimplência para níveis preocupantes. Ele ressaltou que o número de pedidos de recuperação judicial no País em 2016, que chega a 573 empresas, já ultrapassou o recorde de pedidos apresentados em todo o ano passado, de 512.

No entanto, em resposta à retração do crédito observada desde 2014, vem ocorrendo crescimento significativo dos estoques de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) e Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA). No segundo caso, o estoque no final de setembro era 84 por cento maior do que na virada do ano.

Embora o estoque total de CRA e CRI ainda seja limitado em termos absolutos, seu potencial de crescimento é enorme, segundo Mello. “Existe muito a explorar nesse tipo de financiamento.”

Mesmo no contexto de contenção fiscal, o aumento dos recursos disponíveis para captação foi apontado como ponto crítico para a reativação do crescimento econômico. “Nenhuma economia retoma sem crédito”, disse Marco Maciel, economista sênior da Bloomberg Intelligence para o Brasil. Segundo ele, a economia tende a deslanchar em 2018, mas obrigatoriamente precisa passar por etapas que incluem a desalavancagem de famílias, empresas e bancos e também a correção de preços dos ativos, já em curso.

O ambiente internacional que influencia as variáveis do mercado brasileiro tem como importantes vetores o crescimento lento e a inflação baixa demais na Europa e no Japão, preocupações envolvendo a China e o espaço limitado para elevação dos juros nos EUA. Mais recentemente, surgiu o movimento de expansão rápida do estoque de títulos públicos de países desenvolvidos com rendimentos negativos ou muito próximos de zero, chegando perto de US$ 10 trilhões.

Esse cenário tem mantido o dólar desvalorizado em relação às demais moedas e incentiva a busca dos investidores pelos ativos de maior rendimento dos mercados emergentes. Segundo Alex Lima, especialista de mercado e economista da Bloomberg, o quadro internacional benigno para ativos de risco é determinante para os ganhos da moeda brasileira, paralelamente à mudança política. “Se o Banco Central não fizesse intervenções no mercado de swaps no ritmo que faz, provavelmente estaríamos em patamar de câmbio muito mais valorizado”, afirmou.

Nos próximos meses, no entanto, os mercados globais necessariamente irão absorver as notícias relativas à eleição nos EUA em 8 de novembro, à esperada alta dos juros pelo Federal Reserve, além de eventuais medidas do Banco Central Europeu e do Banco do Japão.

No âmbito doméstico, Marco Maciel afirmou que os preços de mercado — sobretudo os juros longos e a taxa câmbio — refletem, neste momento, o “efeito credibilidade” proporcionado pela redução do risco político e pela equipe econômica nomeada pelo presidente Michel Temer. No entanto, o mercado dá sinais de que o nível de cobrança provavelmente aumentará até dezembro, com expectativa de avanços em termos do teto para os gastos públicos e da reforma da previdência.

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