Sinais de perigo deixaram de funcionar em Wall Street

Por Luke Kawa e Andrea Wong.

Não é difícil avistar potenciais problemas no horizonte dos investidores: a eleição nos EUA, o acúmulo de despesas legais pelo Deutsche Bank, o dia em que os bancos centrais pararem de comprar títulos. Mas quando se trata de mensurar os riscos nos mercados financeiros, eles estão quase em voo cego.

Os indicadores de alerta nos quais os investidores confiaram por décadas não funcionam mais. A chamada curva de juros não mais sinaliza recessões. Os spreads nos contratos de swap estão tão distorcidos que deixaram de ser confiáveis. Até mesmo o índice de volatilidade VIX, às vezes chamado de “indicador do medo”, está confundindo seus seguidores, dizem estrategistas.

À medida que os bancos centrais injetam bilhões de dólares na economia global todo mês e as autoridades aprovam regulamentações para impedir um relapso da crise financeira de 2008, os profissionais mais conceituados do mercado dizem que alguns sinais de alerta estão piscando nas horas mais erradas. Além disso, regras que entraram em vigor na sexta-feira para a indústria de fundos de renda fixa de alta liquidez dos EUA esfriaram o poder preditivo de mais um conjunto de indicadores. Os investidores têm medo de serem pegos de surpresa quando a próxima crise chegar.

“Não consigo acreditar no conteúdo informativo desses indicadores”, disse Aaron Kohli, um estrategista de renda fixa em Nova York da BMO Capital Markets, uma das 23 instituições que negociam diretamente com o banco central dos EUA (Federal Reserve).

Sinais defeituosos

Outro exemplo é a Libor, a taxa em empréstimos interbancários em dólares em Londres com prazos que variam de um dia a um ano. A Libor saltou para níveis só vistos na crise financeira, apesar da manutenção dos juros nos EUA neste ano. Em vez de sinalizar um evento de estresse de crédito, a disparada da Libor foi motivada por mudanças estruturais.

As novas regras para o mercado de renda fixa de alta liquidez empurraram aproximadamente US$ 1 trilhão de fundos que compram dívida de curto prazo de bancos e empresas para fundos que investem em instrumentos mais seguros, como os títulos do Tesouro americano. Assim, os bancos enfrentam a alta das taxas de captação. A Libor de três meses chegou a 0,88 por cento em 14 de outubro, a mais elevada desde 2009.

“Não há muitas razões para acreditar em restrições de financiamento nessas grandes instituições”, disse Kohli.

As distorções também são observadas nos spreads entre a Libor e outras taxas de referência. A diferença entre a Libor e a taxa de swap overnight — outra medida de estresse na captação pelos bancos que isola o risco de crédito — é a maior desde 2012.

No mês passado, analistas do Goldman Sachs Group mencionaram a perda da capacidade preditiva do spread TED, que mede a diferença entre a Libor e o rendimento de títulos do Tesouro americano de prazo similar. O spread TED foi removido do índice de condições financeiras calculado pelo banco.

“Minha preocupação é que, quando formos mordidos, não vai ser por algo que olharíamos tradicionalmente”, disse Peter Tchir, responsável por estratégia macroeconômica da Brean Capital. “E vai levar algum tempo para os mercados se ajustarem.”

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