Por Josué Leonel.
O mercado financeiro dobrou em uma semana a aposta em corte da taxa de juros do Banco Central no próximo encontro do Copom. Os juros futuros negociados na BM&F passaram a apontar corte de 25 pontos base, ou 0,25 ponto percentual, em outubro. Uma semana atrás, o corte precificado era de apenas 12 pontos.
Para o mercado, uma combinação de eventos está abrindo a porta para o BC cortar a taxa Selic, que está parada em 14,25% há mais de um ano. O fator mais recente é a inflação. O IPCA-15 de setembro divulgado nesta quinta-feira, de 0,23%, ficou abaixo de todas as estimativas coletadas pela Bloomberg. E o mais importante, houve avanço nos dois itens que o BC está monitorando atentamente como condições para cortar a Selic: a inflação de alimentos caiu a zero no período e a alta de serviços desacelerou.
Além disso, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse à Bloomberg, em Nova York, que é “altamente provável” que a taxa de juros poderá cair até o final do ano.
O resultado do IPCA-15 chega depois de um período de surpresas negativas da inflação, provocadas sobretudo pela alta forte dos alimentos. “A inflação finalmente surpreendeu na ponta de baixo das expectativas”, diz Daniel Cunha, estrategista da XP Securities em Nova York. “Isso sugere que o alívio monetário pode começar mais cedo do que o esperado.”
Cunha observa ainda que os sinais dos BCs japonês e americano nesta semana foram positivos para a liquidez global e para as moedas de países emergentes. Isso se soma ao noticiário mais favorável no Brasil sobre as reformas, diz o estrategista. Ele espera um corte entre 0,25 pp e 0,50 pp em outubro. Lembra, contudo, que será preciso checar se o relatório trimestral de inflação do BC , que será divulgado na semana que vem, confirma ou não as expectativas mais positivas do mercado.
Em relação à política fiscal, reformas mais ambiciosas, como a da Previdência, só devem sair em 2017. Já a perspectiva de a PEC do teto dos gastos ser votada em comissão da Câmara no dia 7 de outubro foi vista no mercado como um possível argumento definitivo para o BC começar já a cortar o juro. Se passar na comissão, a medida terá dado um primeiro passo concreto, embora incompleto, em sua tramitação no Congresso. E isso ocorreria antes do Copom, que anuncia a decisão dia 19.
Enestor dos Santos, economista do BBVA para o Brasil e América Latina, ainda projeta juros estáveis, pois considera os avanços na política fiscal “escassos”. Porém, vê dois fatores que podem eventualmente convencer o BC a cortar a taxa ainda em outubro.
Um desses fatores seria a própria queda do dólar, que poderia levar o BC a agir para evitar maior apreciação do real. Além disso, cortar a Selic já em outubro seria uma forma de o BC evitar começar a redução justamente no momento em que o Fed estiver subindo a taxa nos EUA, diz o economista.
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