Por Nacha Cattan e Eric Martin.
Os mexicanos viram horrorizados pela televisão Donald Trump derrotar Hillary Clinton na eleição dos EUA, colocando no poder um homem que gerou indignação entre eles e seus parentes nos EUA e prometeu construir um muro entre os dois países após quase um século de paz.
“O mundo enlouqueceu”, disse Alessandro Mendoza, acompanhando os resultados em duas telas gigantes em uma reunião lotada de empresários mexicanos e americanos na Sociedade Americana. Quando a liderança de Trump se consolidou, o advogado de 29 anos da Cidade do México, que tem primos em Miami, pôs a mão na boca em sinal de surpresa e sussurrou para um amigo: “Estamos mal”.
O país foi abalado durante meses pela campanha eleitoral, que culminou com uma noite tensa em que a ministra de Relações Exteriores do México, Claudia Ruiz, monitorou a situação em um gabinete que parece uma sala de guerra. Milhares de moradores da Cidade do México haviam planejado celebrar uma derrota de Trump no monumento Angel de la Independencia, no centro da cidade, onde torcedores de futebol comemoram após vitórias da seleção mexicana. Mas quando saiu o resultado, o Paseo de la Reforma, a via que passa pelo monumento, estava estranhamente silenciosa.
“Os americanos me desapontaram”, disse José Enrique Guillén, estudante de Sociologia de 28 anos, no bar Pinche Gringo, na capital. “Sinto o ódio. Estou triste e preocupado.”
‘Estupradores’
Desde o início de sua campanha, quando chamou os imigrantes mexicanos ilegais nos EUA de “estupradores”, Trump usou o México como bode expiatório para enfatizar suas preocupações com o livre comércio e os trabalhadores ilegais. Agora, após malharem e queimarem bonecos de Trump durante meses e usarem perucas para satirizá-lo nos teatros, os mexicanos encaram uma realidade sombria que pode prejudicar a economia do país e lançar as vidas de milhões de imigrantes no caos.
O peso caiu mais de 11 por cento em determinado momento, atingindo uma mínima recorde, superando a marca de 20 por dólar pela primeira vez. Foi a pior grande vítima de uma noite que derrubou o ouro, as moedas, as ações e os mercados financeiros ao redor do mundo.
“Este é o acontecimento mais importante nos EUA para o México desde a guerra de 1846”, quando as tropas americanas invadiram o país, disse José Antonio Crespo, analista político do Centro para Pesquisa Econômica e Ensino, na Cidade do México, antes da divulgação do resultado.
O envolvimento do México na campanha presidencial de seu vizinho foi sem precedentes. Seus consulados espalhados pelos EUA montaram uma campanha para transformar residentes legais em cidadãos americanos, em uma ação ostensiva para que votassem contra Trump. No México, senadores apareceram na TV para exortar os mexicanos que estão nos EUA a irem votar, enquanto a candidata à presidência e ex-primeira-dama do México, Margarita Zavala, usou o Facebook para criticar Trump. Um grupo chamado #GringosAVotar convocou os americanos que moram no México a enviarem seus votos.
Foi tudo em vão. No bar Pinche Gringo, jovens mexicanos e americanos bebiam cerveja sob balões vermelhos, brancos e azuis, vaiando cada vez que um novo estado era atribuído ao republicano, enquanto o DJ tocava uma música com um refrão que dizia algo como “dane-se Donald Trump”. Quando Trump venceu em Utah, um espectador frustrado jogou comida na tela.
“Esse resultado surpreendeu a todos nós”, disse a senadora Gabriela Cuevas, presidente do comitê de Relações Exteriores do Senado do México e membro do Partido da Ação Nacional, de oposição. “É preocupante que uma pessoa que parece tomar decisões com pouca informação e com tanta ignorância terá maioria na Câmara de Representantes e no Senado.”
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