Sistema de classificação ESG: transparência, metodologia e consistência

Patricia Torres, diretora global de soluções financeiras sustentáveis da Bloomberg, conversa com Shanny Basar sobre perspectivas mais amplas, inovação e diversidade.

Patricia Torres, diretora global de soluções financeiras sustentáveis da Bloomberg, sempre aconselha mulheres a estarem abertas a diferentes oportunidades. Por exemplo, quando seu gerente anterior a convidou para se mudar do Brasil para Londres para assumir seu cargo atual, ela jamais pensou que isso impactaria tanto sua vida e crescimento pessoal.

Torres disse: “Eu inicialmente disse não, mas ele continuou insistindo e, eventualmente, me convenceu. Mesmo quando você não acredita em si mesma, saiba que outras pessoas estão acreditando em você.”

Esse pensamento valeu a pena, pois Torres hoje lidera um time focado em oferecer à comunidade financeira os dados, análises, pesquisas e índices ambientais, sociais e de governança mais abrangentes e exclusivos.

“Garanto que, ao logarem na Bloomberg, as pessoas conseguem ter acesso a todos os dados ESG de que precisam para tomar decisões inteligentes”, acrescentou.

A Bloomberg incorpora dados sólidos de relatórios empresariais, bem como dados ESG de terceiros de fornecedores como MSCI e Sustainalytics. Em outubro, a pesquisa e a classificação ESG da Sustainalytics ficaram disponíveis no Terminal Bloomberg. O relatório “Controversies Research” da Sustainalytics e os dados de quase 18.000 empresas também foram adicionados ao Terminal Bloomberg.

Shila Wattamwar, diretora executiva de estratégia de produtos ESG da Sustainalytics, afirmou em comunicado: “Ao focar na questão material e social nas nossas classificações ESG, a Sustainalytics oferece aos usuários do Terminal Bloomberg uma visão prospectiva dos riscos ESG de empresas, bem como uma visão de como gerenciar tais riscos.”

Torres afirmou que busca ser agnóstica em sua função, atendendo seus clientes e garantindo que os dados que desejam e necessitam estejam disponíveis no Terminal Bloomberg.

“Ou seja, se um cliente adora a Sustainalytics, vou levar esses conjuntos de dados para o Terminal”, acrescentou . “No total, oferecemos cerca de 1.000 pontos de dados de conteúdo de terceiros, o que é uma grande parte da estratégia do meu plano de negócios.”

Investindo em um futuro sustentável
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Dados proprietários

Além de fornecer dados de terceiros, a Bloomberg produz pontuações proprietárias exclusivas por meio de mais de 700 analistas de pesquisa da Bloomberg Intelligence e BloombergNEF. Essa equipe enorme de analistas de dados examina relatórios de responsabilidade social corporativa, coleta dados, garante que os elementos sejam comparáveis e que os dados representem pelo menos 80% das operações e 80% da força de trabalho. A Bloomberg faz a cobertura de quase 12.000 empresas, representando 88% da capitalização de mercado de ações globais.

“Para as classificações da Bloomberg, começamos a pontuar as empresas separadamente em E (do inglês, “equity” (igualdade), S (do inglês, “social”) e G (do inglês, “governance” (governança), com uma materialidade específica do setor que consideramos única”, afirmou Torres.

A fim de promover a transparência sobre como cada pontuação foi obtida, a Bloomberg fornece seu mapa de materialidade e metodologias, garantindo que todos os dados possam ser rastreados até o documento original. Por meio das pontuações, clientes podem conferir o desempenho de uma empresa com base em dados divulgados e, sobretudo, na porcentagem de dados divulgados comparada com suas projeções.

Torres afirmou que a divulgação está melhorando, à medida que players do mercado se tornam mais conscientes sobre ESG e pressionam uns aos outros a evoluir – incluindo reguladores, ONGs e investidores.

“No entanto, apenas 60% das empresas do S&P 500 publicaram suas emissões totais de gases de efeito estufa no ano fiscal de 2020”, acrescentou. “Todos estamos cientes da importância das mudanças climáticas, ouvimos os cientistas e recentemente tivemos a COP 26, por isso é fundamental preencher essa lacuna de dados no mercado.”

Para preencher a lacuna de dados, Torres acredita que divulgar dados de ESG junto com relatórios anuais seja algo simples para as empresas. Torres questionou: “por que ainda permitimos que as empresas divulguem dados ESG três, seis ou nove meses após a divulgação de seus dados financeiros?”

Além disso, a divulgação deve ser pontual, precisa e verificada por terceiros ou uma equipe de auditoria interna. Ela também indagou: “quantos estão divulgando números incorretos?”

Os dados também devem ser consistentes e legíveis eletronicamente, pois os relatórios de CSR podem ter de 400 a 500 páginas de dados não estruturados. Torres afirmou: “devemos garantir acesso mais fácil e contínuo aos dados, e atualmente esse não é o caso, e é por isso que a Bloomberg é tão ativa nesta esfera”.

Para superar o greenwashing, a Bloomberg recorre a estruturas específicas, como a Taxonomia da União Europeia e o Regulamento de divulgação de finanças sustentáveis (Sustainable Finance Disclosure Regulation – SFDR). Torres acrescentou que a Bloomberg oferece análises para ajudar a combater o greenwashing, incluindo uma solução de dados que automatiza o processo de due diligence de quatro etapas de alinhamento de taxonomia, e mapeia os principais requisitos do impacto adverso do SFDR para dados de ESG em quase 12.000 empresas.

“Também estamos lançando índices alinhados ao acordo de Paris, que permitirão às empresas comparar seus fundos sustentáveis a um benchmark sustentável”, acrescentou. “Para evitar greenwashing, é preciso fornecer ferramentas e bons dados ao mercado.”

Carreira

Torres revelou que, ao olhar para a Bloomberg em 2001, considerou a empresa como a fintech mais inovadora e fundamental para clientes no buy-side e sell-side, algo que ainda acredita hoje.

“Além disso, Mike Bloomberg é uma inspiração como filantropo, líder empresarial e político de sucesso”, afirmou. “Ele doou US$ 1 bilhão para combater as mudanças climáticas, o que está transformando a vida de milhões de pessoas em 810 cidades e 170 países.”

Ela atribui seu sucesso à energia, motivação e evidente paixão.

“Sou apaixonada pelo que fazemos na Bloomberg, sou apaixonada por ESG e por trabalhar para um propósito maior – trazer um futuro mais sustentável para o nosso setor e para o mundo em geral”, acrescentou Torres.

Outro fator por trás de seu sucesso foi ter trabalhado em muitos lugares diferentes, com muitas pessoas diferentes, o que lhe proporcionou um aprendizado contínuo. Torres é portuguesa, mas trabalhou na América Latina e em Londres.

“Você deve ser curiosa, seguir aprendendo, ser aberta e confiar em si mesma, porque outras pessoas o fazem. Portanto, não se rebaixe, o que pode ser uma predisposição entre mulheres.”

Para progredir a diversidade de gênero, Torres acredita que não basta que o setor financeiro coloque em prática políticas que garantam promoções equitativas – embora este seja um bom começo. Na sua visão, a verdadeira mudança virá apenas quando as empresas responsabilizarem todos os líderes pelo cumprimento de metas de diversidade e instituírem incentivos materiais para que líderes criem uma cultura inclusiva e solidária que incentive a participação de mulheres em todos os níveis.

Anualmente, a Bloomberg lança um Índice de Igualdade de Gênero (GEI), e uma tendência recorrente é a baixa representação.

“As mulheres estão muito bem representadas na base, mas assim que subimos de nível, menos mulheres são representadas”, afirma Torres. “Existe uma correlação entre o número de mulheres em cargos de direção e novas contratações, então as empresas devem investir em representação e oferecer oportunidades em funções geradoras de receita.”

O Índice de Igualdade de Gênero da Bloomberg de 2021 constatou que um número recorde de empresas divulgou seus dados, e a qualidade de tais dados está em constante evolução. Em média, os conselhos dos membros do GEI são 29% mulheres e 61% contam com um Diretor de Diversidade ou executivo cujas principais responsabilidades são diversidade e inclusão. As empresas têm em média 39% de mulheres em funções geradoras de receita e mais da metade, 52%, exige diversidade de gênero entre candidatos para cargos de gestão.

Torres insistiu que mulheres devem permanecer nos serviços financeiros e continuar a promover a diversidade.

“Meu pedido é para que as mulheres sigam no setor financeiro, pois precisamos de vocês!” ,afirmou. “Precisamos garantir que a próxima geração possa olhar para cima e nos ver, e para que possamos colaborar com uma agenda muito mais diversificada em um futuro próximo.”

Para recrutamento, Torres considera outras medidas de diversidade além de gênero, como idade e etnia.

“Este ano, contratamos cinco novas pessoas e é incrível olhar ao redor da mesa e ver diferentes etnias, o equilíbrio entre mulheres e homens, e diferentes faixas etárias, e isso importa, pois sabemos que a diversidade impulsiona o desempenho”, ela disse.

Artigo por Shanny Basar para Best Execution, licenciado pela Bloomberg.

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