Sistema de comércio global pode 'ser destruído', alerta Lagarde

Por Andrew Mayeda e Enda Curran com a colaboração de Haslinda Amin.

A economia mundial precisa evitar ser sugada por uma espiral protecionista que venha a enfraquecer o impulso de crescimento global, disse a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde.

O FMI continua otimista em relação às perspectivas para o crescimento global, disse Lagarde na quarta-feira em discurso em Hong Kong, antes das reuniões anuais da primavera (Hemisfério Norte) dos 189 países-membros do fundo, em Washington, na semana que vem. A economia mundial está se beneficiando com o aumento do investimento, a retomada do comércio e as condições financeiras favoráveis, que incentivam empresas e famílias a ampliarem os gastos, disse Lagarde.

O FMI atualizará sua projeção global em 17 de abril. O fundo disse em janeiro que projeta crescimento de 3,9 por cento da economia global neste ano e no próximo.

Ainda assim, ela alertou para o surgimento de ameaças, sendo a onda de protecionismo a mais notável. “Sim, o panorama global atual é brilhante. Mas podemos ver surgirem nuvens mais escuras.”

Lagarde disse que a ascensão do sistema de comércio global reduziu a pobreza extrema, diminuiu os custos de vida e gerou milhões de empregos bem remunerados. “Mas esse sistema de regras e responsabilidade compartilhada corre o risco de ser destruído”, disse. “Isso seria um fracasso coletivo imperdoável em termos de políticas.”

Guerra verbal

A advertência do FMI se dá em meio à guerra verbal entre EUA e China motivada pelo comércio exterior, que tem gerado nervosismo nos mercados financeiros e levantado dúvidas a respeito do impulso mais amplo ao crescimento global em anos. O presidente dos EUA, Donald Trump, ameaça aplicar tarifas a US$ 150 bilhões em importações chinesas para punir Pequim pelo que os EUA consideram um abuso de seus direitos de propriedade intelectual. A China respondeu ameaçando impor tarifas a um leque de itens que abrange de tudo, desde a soja até os aviões americanos.

O medo de que haja uma guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo ganhará força na semana que vem, quando se reunirão em Washington ministros da Economia e chefes de bancos centrais de países-membros do FMI. O fundo foi concebido durante a Segunda Guerra Mundial para promover mercados abertos e desencorajar as políticas de beggar-thy-neighbor (empobrecer o seu vizinho) que se enraizaram durante a Grande Depressão.

Sem fazer referências diretas aos EUA e à China, Lagarde advertiu que as restrições às importações prejudicam a todos, especialmente os consumidores pobres. Barreiras do tipo impedem que o comércio desempenhe seu papel “essencial” de aumentar a produtividade e difundir novas tecnologias, disse.

Maior risco

Em resposta a perguntas, depois de seu discurso, a chefe do FMI disse que o maior risco da disputa comercial não é tanto o impacto sobre o crescimento nominal, mas mais o enfraquecimento da confiança, que prejudicaria os investimentos.

“Precisamos ser um pouco sensatos em relação a essa conversa sobre guerra comercial”, disse. “Há ameaças e respostas a ameaças, há uma tentativa de abrir um diálogo e acho que devemos apoiar esse diálogo o máximo possível. É assim que se melhora a situação, e não deixando que cresça como uma bola de neve e se torne algo que possa gerar consequências significativas.”

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