Por Felipe Marques e Vinícius Andrade.
A incursão do grupo japonês SoftBank na América Latina – que criou uma nova leva de “unicórnios” na região com transações bilionárias – está apenas começando.
O gigante de tecnologia japonês tem ainda cerca de US$ 4 bilhões no fundo de US$ 5 bilhões que lançou em março para financiar empresas de tecnologia na região e já mapeou 300 empresas como alvos em potencial, segundo Andre Maciel, sócio-gestor do SoftBank Group International. Cerca de 200 delas estão no Brasil, disse ele.
“A gente já está achando a oportunidade na região maior do que tinha achado originalmente”, disse Maciel, em entrevista nos escritórios da empresa em São Paulo. “Tem muita coisa fora do Brasil para explorarmos também.”
Como próximos alvos, Maciel disse que está olhando para empresas dos setores de saúde e imobiliário, além de aumentar apostas em empresas financeiras e de mobilidade.
Os investimentos do SoftBank constituem uma grande fatia da atividade de fundos de venture capital na América Latina. No ano passado, os investidores desses fundos aportaram US$ 2,4 bilhões em startups na região, mais que o dobro do total de 2017, segundo dados do PitchBook. Em 2019 até agora, as transações somaram US$ 2,1 bilhões, em grande parte graças ao SoftBank.
O SoftBank não é o único venture capital global a vir em busca das startups latinas. O Nubank anunciou uma rodada de financiamento de US$ 400 milhões liderada pelo fundo TCV – um dos primeiros investidores da Netflix e do Spotify – em seu primeiro grande investimento na América Latina. A Tencent Holdings Ltd. e a Sequoia Capital, dois investidores do Nubank, também entraram no aporte.
Além de aportar dinheiro em empresas latino-americanas – em alguns casos mais do que triplicando a avaliação de preço das companhias – o SoftBank também está injetando recursos em fundos de venture capital locais. Em junho, o SoftBank anunciou uma parceria com a Valor Capital Group, um fundo com cerca de US$ 300 milhões investidos em 37 startups brasileiras e empresas americanas que querem expandir no Brasil.
“Em alguns casos, a gente mais que dobrou a capacidade de investimento disponível desses fundos”, disse Maciel. “Não temos estrutura ou a capilaridade para olhar as transações menores. E esses fundos podem irrigar o sistema para empreendedores.”
Maciel, um veterano de 17 anos do JPMorgan, é um dos três executivos-chave de Marcelo Claure na região, o único baseado em São Paulo. Os outros dois são Shu Nyatta, que fica entre os escritórios de Miami e do Vale do Silício, e Paulo Passoni, que trabalhou na Third Point LLC por sete anos e é baseado em Miami. O trio reporta a Claure, o CEO do SoftBank Group International, que supervisiona a expansão da América Latina.
Outra parte do mandato do grupo é ajudar o portfólio global do SoftBank de mais de 100 empresas a se estabelecer na América Latina. Maciel diz que há planos para trazer cerca de 40 delas para a região, seja através de parcerias seja via escritórios locais. Alguns dos empreendimentos de maior sucesso do SoftBank, o Uber, a WeWork e a Didi Chuxing, já possuem operações locais consideráveis.
O SoftBank tem 10 funcionários em sua equipe local e planeja atingir até 30 nos próximos meses. Também está procurando um novo prédio para abrigar seus escritórios em São Paulo, disse Maciel. A dificuldade, porém, é se manter discreto em meio ao frisson causado pelo SoftBank entre as startups locais.
A solução de Maciel? “Comecei a fazer algumas das reuniões mais delicadas na sala da minha casa mesmo”.