Por Leila Abboud.
Os participantes da Consumer Electronics Show em Las Vegas na semana passada puderam brincar com uma enorme variedade de veículos aéreos não tripulados. Drones que tiram selfies. Drones equipados com câmeras de imagem térmica para ver à noite. Drones que ajudam pescadores a perseguir suas presas.
Nenhum uso é totalmente de nicho porque os fabricantes de drones miram um mercado que, segundo as projeções, crescerá 32 por cento por ano em média durante a próxima década e atingirá US$ 30 bilhões, segundo a ABI Research. Mas fora do showroom, um certo desânimo se instalou em um mercado antes entusiasmado.
A francesa Parrot, a segunda maior fabricante de drones não-militares, vai demitir um terço dos funcionários porque as margens de seus drones de consumo foram “insuficientes para gerar um crescimento rentável”. Essa é uma declaração notável para uma empresa que foi pioneira em drones de consumo baratos em 2009 e hoje se concentra nos de US$ 100 a US$ 500. Talvez você os tenha visto nas prateleiras das lojas da Apple nos EUA e na Europa. Quase 60 por cento da receita da Parrot vem dos drones.
Existem duas razões para os problemas de Parrot. Primeiro, a empresa está definhando sob o ataque competitivo da chinesa SZ DJI Technology, a rainha indiscutível dos drones não-militares. A DJI fabrica modelos exclusivos para amadores e empresas, que os usam para tudo, da inspeção de cultivos até a construção. A empresa financiada com capital de risco controla o processo inteiro, do design até a fabricação, o que a torna mais eficiente do que as rivais que terceirizam, e com produtos melhores. Ultimamente, a DJI ficou mais agressiva nos preços, segundo concorrentes.
Dezenas de fabricantes de drones padrão também surgiram na Ásia, diminuindo ainda mais os preços. Até mesmo fabricantes de câmeras como a GoPro, com sede nos EUA, tentaram a sorte e descobriram que o negócio era mais difícil do que parecia. O drone Karma da GoPro tinha falhas de energia e alguns deles caíram.
O setor está seguindo um roteiro conhecido do hardware. A ‘commoditização’ chega rapidamente, até mesmo quando um segmento está crescendo velozmente. A escala se torna mais importante do que a marca. As margens de lucros podem ser pequenas: é só perguntar aos fabricantes de TVs de tela plana ou de smartphones, menos a Apple e a Samsung.
A queda dos preços está chegando mais rápido do que os investidores esperavam. Em 2015, investidores de capital de risco estavam colocando dinheiro em startups. Hoje, as demissões são mais comuns do que as grandes rodadas para arrecadação de fundos.
A Zerotech, uma empresa chinesa de pequeno porte, demitiu um quarto dos funcionários em dezembro. No ano passado, a 3D Robotics, a terceira colocada, demitiu funcionários e resolveu parar totalmente de fabricar drones, citando cortes de 70 por cento nos preços da DJI. Agora ela se concentra em fabricar software para fazer os drones funcionarem e em oferecer serviços às empresas.
Esta fase difícil talvez não seja algo ruim. Os drones têm potencial para melhorar muitas indústrias quando são utilizados no mundo real. Mas se eles forem mais do que uma moda passageira, nós não precisamos das dezenas de fabricantes de drones zumbidores que os nerds adoram, mas que, na verdade, não melhoram a utilidade e a segurança da tecnologia.
Os investidores de capital de risco estão se interessando mais por empresas mais sintonizadas com o mercado empresarial, incluindo aquelas que oferecem serviços, como a americana Airwave. Essa parece ser uma forma racional de tentar evitar um futuro sem lucros e sem pilotos.
(Esta coluna não reflete necessariamente a opinião da Bloomberg LP e de seus proprietários.)
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