Stuhlberger se prepara para frenesi com eleição no Brasil

Por Julia Leite e Felipe Marques.

Há uma eleição presidencial no caminho do otimismo de Luis Stuhlberger.

Embora o lendário gestor do fundo Verde se encontre otimista diante de uma política fiscal melhorada, inflação baixa e crescimento acima do esperado no Brasil, ele acredita que a volatilidade agitará os mercados antes da eleição de outubro. Sem nenhum favorito óbvio entre os candidatos moderados, ele afirma ver chance de que nenhum deles chegue ao segundo turno, deixando os investidores no escuro em relação ao futuro econômico do país.

“Eu tenho esse medo da volatilidade eleitoral. Aliás, todo mundo tem”, disse Stuhlberger, em entrevista, na semana passada, em São Paulo. Stuhlberger comanda a Verde Asset Management, que tem participação minoritária do Credit Suisse, administra R$ 33 bilhões (US$ 10 bilhões) em ativos. Ele acredita que as oscilações de preços provavelmente ganharão força conforme a eleição se aproximar, com o mercado tentando adivinhar quem tem mais chances de vencer, o que deverá abrir oportunidades de compra.

Stuhlberger, de 63 anos, se tornou um dos mais reverenciados do Brasil, depois que seu fundo Verde registrou retorno total de cerca de 15.000 por cento desde sua criação, há 20 anos, quase oito vezes mais do que o índice de referência. Mas o ano passado foi difícil para o Verde porque a postura pessimista em relação à economia brasileira, em meio à alta de 27 por cento do Ibovespa, e uma aposta contra a China que não deu resultado fizeram o principal fundo da gestora registrar desempenho abaixo do benchmark pela terceira vez em duas décadas.

Stuhlberger se mantinha pessimista em relação ao Brasil desde 2014, quando deixou completamente o mercado de ações do país em meio a turbulências políticas e à recessão iminente. Uma série de surpresas positivas o fizeram reconsiderar a estratégia e seu principal fundo — fechado para novos clientes há anos — vem recomprando ações nos últimos meses.

O ânimo vem de o fato de o presidente Michel Temer ter conseguido aprovar uma reforma trabalhista, fixar um teto de gastos do governo e do esforço que tem feito para reduzir as despesas do governo com aposentadorias — medidas que levaram a uma disparada de 53 por cento das ações desde que ele assumiu a presidência. Mas, como o mandato de Temer termina no fim do ano, Stuhlberger está esperando que os mercados piorem para aumentar posições antes que eles melhorem.

“Quando eu olho o quadro fiscal, com o teto que não dá para cumprir, como dá para ser otimista com um quadro desses? Acho que é exatamente porque agora chegamos na encruzilhada da verdade; o populismo ficou para trás”, disse.

As ações no Brasil atualmente representam cerca de 8 por cento da carteira do Verde, fatia muito inferior aos 33 por cento que representavam entre 1997 e 2002. Stuhlberger diz que é difícil especificar um nível para o Ibovespa que veria como atrativo devido à incerteza em torno da eleição.

Como a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva agora é vista como menos provável após a confirmação em segunda instância de sua condenação por corrupção, no mês passado, o maior risco é que nenhum candidato de centro consiga chegar ao segundo turno, segundo o gestor. Ele compara a eleição deste ano à de 1989, quando o então líder sindical Lula enfrentou o azarão Fernando Collor na disputa pela presidência depois de vencer cerca de 20 candidatos no primeiro turno da eleição. Collor — que disse que concorrerá novamente neste ano — ganhou, mas sofreu impeachment pouco depois sob acusações de corrupção.

Stuhlberger diz que está atento ao real e que planeja abandonar sua posição se a moeda ganhar força e o dólar chegar a R$ 3,10. O real atingiu esse patamar pela última vez em setembro, mas desde então se desvalorizou e agora o dólar voltou a R$ 3,28. Ele afirma, porém, que sua visão mudará se o governo conseguir aprovar a emblemática reforma da previdência, um cenário que não está precificado nos mercados, disse ele.

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