Suas cápsulas de café não estão matando o planeta

Por Adam Minter.

Os burocratas alemães sonolentos de Hamburgo em breve terão uma opção a menos para obter uma dose de cafeína à tarde, porque a cidade baniu as cafeteiras de cápsula individual, como a Nespresso, dos edifícios governamentais. As novas normas têm um objetivo digno. Elas visam a proteger o meio ambiente, partindo do pressuposto de que o uso e o descarte de milhares de pequenas cápsulas de café provocam “um consumo desnecessário de recursos e geração de lixo”.

Uma repercussão contrária às cápsulas de café vem surgindo há algum tempo. De acordo com um dado estatístico citado por todos, da revista Atlantic à Rádio Pública Nacional dos EUA, a Green Mountain produziu 8,5 bilhões de suas cápsulas de café K-Cup em 2013 – o suficiente para dar a volta ao redor do planeta 10,5 vezes. Campanhas, petições e artigos nobres condenaram esse perdularismo, transformando a pobre cápsula de café em um bicho-papão comparável às garrafas de água.

No entanto, em meio a esse fervor perdeu-se qualquer perspectiva sobre como medir o impacto ambiental das coisas que consumimos. Há uma dúvida verdadeira sobre se a proibição de produtos muito falados – garrafas de água, sacos de plástico ou cápsulas de café – corre o risco de causar mais danos do que de evitá-los.

Antes de mais nada, deveríamos compreender a verdadeira escala do problema. De acordo com o Departamento do Meio Ambiente e da Energia de Hamburgo, uma cápsula de café comum pesa 3 gramas (as famosas cápsulas de 1,2 grama da Nespresso e outras pesam menos). Usando esse número, todas as unidades de K-Cup da Green Mountain acumuladas pesariam 25.500 toneladas. O valor soma cerca de 0,05 por cento das mais de 49 milhões de toneladas de lixo sólido municipal gerado pela Alemanha em 2012 e apenas 0,01 por cento das 251 milhões de toneladas de lixo sólido gerado pelos EUA. (Para fazer uma comparação, os americanos jogaram fora 860.000 toneladas de livros naquele ano.) Mesmo adicionando as 27 bilhões de cápsulas que a Nespresso diz ter vendido em todo o mundo entre 1986 e 2012, nem assim o lixo associado chegaria a 1 por cento do lixo total gerado nos EUA ou na Alemanha em 2012.

Claro que o fato de as cápsulas de café serem uma parte minúscula do fluxo de lixo não significa que elas não tenham um impacto ambiental. Mas a proibição em Hamburgo parece presumir que outras formas de fazer café são menos prejudiciais. Essa suposição é, no mínimo, questionável.

Para julgar adequadamente os custos ambientais do café é preciso considerar todo o ciclo, do cultivo dos grãos à preparação – que utiliza energia e água – e o descarte. Durante a década passada houve diversas tentativas de fazer exatamente isso. Embora difiram em aspectos importantes, em um ponto há um consenso quase universal: o processo de preparação e as emissões de carbono associadas a ele têm o maior impacto sobre o meio ambiente.

Como era de se esperar, essas emissões variam muito dependendo da cafeteira e de como ela é usada. Por exemplo, as cafeteiras de cápsula, que ficam desligadas quando não estão em uso, utilizam a energia de modo relativamente eficiente, especialmente se forem comparadas com as cafeteiras de filtro, que muitas vezes ficam ligadas durante horas a fio. Se as autoridades de Hamburgo substituírem as cafeteiras de cápsula pelas de filtro, elas poderiam minar seus próprios esforços bem-intencionados.

Além disso, como as cafeteiras de doses individuais geralmente só usam a quantidade exata de café e de água necessária para preparar uma xícara, elas desperdiçam menos desses dois elementos do que as cafeteiras concorrentes. Na verdade, elas são tão eficientes que produtores e empresas de torrefação estão responsabilizando as cápsulas de café por uma queda na demanda por café, de acordo com a Bloomberg. Ou, nas palavras de um analista: “O mercado de café perdeu seu melhor consumidor: a pia da cozinha”. (De acordo com duas pesquisas, a opção mais ecológica de todas é o café solúvel instantâneo, execrado pela maioria dos esnobes do café.)

Isso não significa que a proibição em Hamburgo esteja completamente equivocada. O desperdício e o descarte são questões ambientais críticas, especialmente em países como a Alemanha, onde os custos do aterro sanitário são altos. Mas não são as únicas prioridades e não deveriam ser considerados isoladamente.

Esta coluna não necessariamente reflete a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

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