Surto de zika mina confiança, aumenta risco, dizem investidores

Por Andre Soliani, com a colaboração de Anna Edgerton, Denyse Godoy e Paula Sambo.

A resposta à epidemia do Zika que se espalha pela América Latina poderia custar bilhões de dólares. A Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou emergência de saúde pública global ao surto e a transmissão ativa do vírus tem sido relatada em quase todos os países da América do Sul e Central.

O Brasil, o epicentro do surto, vai gastar mais de 1 bilhão de reais (256,7 milhões de dólares) na erradicação do mosquito em 2016. O país também vai perder uma quantidade significativa de receitas de turistas esperados para o Carnaval e os Jogos Olímpicos.

“Este é mais um ingrediente para ferir a confiança no Brasil, um país que não faz a lição de casa, que é vulnerável”, disse Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos, corretora com sede em São Paulo.

Os estrangeiros já estão cancelando viagens ao Brasil, disse Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset Management, em São Paulo, que ajuda a administrar R$ 200 milhões em ativos. “A imagem do Brasil no exterior é terrível. Nós somos vistos como exportadores de risco para a saúde global”, disse Vieira. “A epidemia é um reflexo das nossas condições sanitárias terríveis.”

O Brasil tem mobilizado 220.000 soldados e 309.000 trabalhadores de saúde para ir de porta em porta, verificando se há água parada e distribuindo panfletos sobre a prevenção do mosquito. As mulheres grávidas são aconselhadas a não viajar para o Brasil durante os Jogos Olímpicos para evitar defeitos de nascimento potenciais relacionados com Zika, disse o chefe de gabinete da presidente, Jaques Wagner.

“É um risco grave em mulheres grávidas”, disse Wagner a repórteres após uma reunião de emergência do gabinete em 1° de fevereiro. Ele acrescentou que “não é recomendado” para elas viajar para o Brasil. As autoridades brasileiras estão, provavelmente, “na esperança de que as pessoas não vão ficar longe” dos Jogos Olímpicos, diz Grant Hill-Cawthorne, virologista médica que ensina saúde pública na Universidade de Sydney.

Em surtos anteriores, como o do vírus SARS na Ásia em 2003, os custos econômicos das interrupções de viagem e comércio superaram os custos médicos diretos da doença. “Sabemos com experiência do surto do Ebola como isso pode impactar fortemente a economia”, diz Hill-Cawthorne.
Os investidores estão olhando para a pandemia de influenza H1N1 de 2009 no México em busca de pistas sobre como medir o impacto econômico.

“É semelhante aos episódios do H1N1 no México há alguns anos”, disse Sean Newman, gerente sênior de portfólio da Invesco. “O impacto mais imediato seria menos pessoas vindo para o trabalho.” Enquanto o medo da doença é suscetível de reduzir as viagens aéreas na América Latina, que terá impacto no crédito limitado para as companhias aéreas, de acordo com a Moody’s.

Ao contrário do vírus H1N1 que era uma ameaça de morte a todos os que foram infectados, o vírus Zika provoca graves problemas de saúde em um número relativamente pequeno de pessoas, escreveu Moody’s em um relatório de 3 de fevereiro. A empresa de rating de crédito diz que isso vai ajudar a manter sob controle o declínio no número de passageiros. No México, o JPMorgan espera um impacto limitado sobre os aeroportos. “Não tenha medo de vírus Zika, pelo menos por hora”, disse o banco em um relatório de pesquisa de 3 fevereiro escrito por Fernand Abdalla e Carlos Louro. Uma vez que o vírus não está no ar, o seu impacto sobre aeroportos mexicanos será menor do que em 2009, disseram os analistas.
 

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