Suzano ganha grau de investimento com dívida de R$ 30 bi à vista

Por Gerson Freitas Jr.

Havia anos que a Suzano buscava o grau de investimento, que ateste o baixo risco de calote, das agências de classificação de risco. Ironicamente, a fabricante de papel e celulose conseguiu o feito após anunciar que vai tomar uma dívida enorme.

A S&P Global Ratings elevou o status da Suzano na semana passada, depois que a empresa anunciou a aquisição da rival Fibria para criar uma gigante que responderá por quase um terço da capacidade global de produção de celulose de fibra curta, matéria-prima usada na fabricação de papéis. A Suzano financiará a maior parte da transação – cerca de US$ 9 bilhões, ou R$ 30 bilhões – por meio de dívida, incluindo cerca de US$ 7 bilhões em títulos.

A decisão da Suzano representa uma mudança de rota para a empresa, que vinha reduzindo sua dívida desde que completou um grande projeto de expansão no estado do Maranhão, em 2013. Em 2016, o presidente da companhia, Walter Schalka, disse em uma teleconferência que a empresa já havia atingido métricas compatíveis com o grau de investimento.

A S&P – que afirmou que teria elevado a nota da Suzano independentemente do acordo – aposta que a companhia vai ser capaz de reduzir rapidamente o endividamento diante das enormes economias de escala e das margens de lucro mais robustas que a aquisição deve gerar. A Suzano prevê um ganho de até R$ 10 bilhões nos próximos três anos por meio das chamadas sinergias operacionais, incluindo uma redução nos custos de transporte e com aquisição de matéria-prima.

“A transação anunciada não vai desviar a Suzano de seus padrões de alavancagem, dado o histórico da empresa e a nossa confiança na sustentabilidade de suas métricas de crédito”, afirmou a S&P em seu comunicado, acrescentando que a transação “fortalecerá a posição comercial da Suzano”.

Grupo seleto

A elevação da nota coloca a Suzano em um grupo altamente seleto de empresas brasileiras que podem se gabar de terem o grau de investimento de pelo menos duas agências de risco – a Fitch Ratings já havia elevado sua nota para BBB- em dezembro. A lista, que inclui a Braskem, a Embraer, a Gerdau, a Raízen e a Vale – assim como a Fibria -, diminuiu nos últimos anos em meio a pior recessão em um século. A mudança também chega em um momento em que os exportadores de celulose, incluindo a Suzano, se beneficiam de maior demanda na Ásia após grandes investimentos em expansão de capacidade.

Agora, a Suzano, que tem sido um participante relativamente pequeno nos mercados de dívida corporativa, deve se tornar um dos maiores emissores privados de títulos do Brasil quando a transação estiver concluída. A produtora de papel planeja emitir cerca de US$ 7 bilhões em notas com vencimentos diferentes para amortizar um empréstimo-ponte de três anos usado para pagar os acionistas da Fibria. O montante deve se somar aos atuais US$ 1,4 bilhão que a empresa possui em papéis que vencem em 2021, 2026 e 2047.

O negócio entre Suzano e Fibria encerrou um dos capítulos mais aguardados da consolidação da indústria de celulose. Executivos das duas empresas falavam abertamente das vantagens de uma fusão. Mesmo com a transação, a Suzano se comprometeu a cumprir a política que limita o endividamento da companhia a 3,5 vezes seu lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização em períodos de expansão. Este indicador pode cair a 2,5 vezes ainda em 2019, segundo Marcelo Bacci, o diretor financeiro da Suzano. A empresa descartou quaisquer outras aquisições ou projetos de expansão até que o objetivo seja alcançado.

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