Temer dribla crise por ora enquanto aliados buscam status quo

Por Samy Adghirni e Simone Iglesias.

Três semanas após um escândalo de corrupção que sacudiu o Brasil, o presidente Michel Temer parece disposto a se manter no poder, embora com seu capital político muito abalado.

A ameaça mais imediata para Temer chegou ao fim na sexta-feira, quando o TSE o absolveu de acusações de ter financiado ilegalmente sua campanha eleitoral de 2014. Um veredicto que o declarasse culpado o teria forçado a renunciar, acirrando ainda mais o caos. Após um breve período de selloff, os mercados permaneceram relativamente estáveis durante esta mais recente crise, já que os investidores ainda tentavam avaliar se a permanência de Temer mais ajudava do que atrapalhava na aprovação das reformas cruciais no Congresso neste ano. Fatos novos e dificuldades adicionais na condução da base podem levar o mercado a duvidar mais uma vez da capacidade do Planalto de implementar reformas.

“Parece que ele vai sobreviver, mas ele nunca recuperará completamente o capital político que ele teve”, disse Thomaz Favaro, diretor associado do Brasil e do Cone Sul na consultoria de Control Risks. “Ele terá que reduzir sua agenda de reformas”.

Muitos dos aliados de Temer, enfraquecidos por acusações de corrupção e relutantes em piorar ainda mais um cenário já abalado, agora são menos propensos a abandonar o presidente. O maior parceiro da coalizão, o PSDB, agendou uma reunião para esta segunda-feira, na qual se espera que reitere o apoio às medidas econômicas do governo e se decida sobre manter seus cargos no gabinete.

“Eu sou a favor do não desembarque”, disse o vice-líder do PSDB na Câmara, Luiz Carlos Hauly (PR). “Temos de ter responsabilidade com o país e com as reformas. Não ajuda em nada desembarcar e deixar na mão mais de 14 milhões de desempregados”.

Os assessores de Temer acreditam que ele já tem votos suficientes para barrar um possível processo de impeachment ou uma acusação pelo Supremo Tribunal Federal se o procurador-geral apresentar acusações contra ele, de acordo com um membro do gabinete que acompanha os votos do governo no Congresso. Por lei, é necessária uma maioria de dois terços na Câmara dos Deputados para iniciar um processo de impeachment ou para o Supremo Tribunal de Justiça iniciar um processo contra o presidente em exercício.

Mas isso foi antes de a revista Veja ter divulgado que Temer acionou a Abin para espionar o ministro do STF Edson Fachin, que é responsável pela Lava Jato.

Temer negou rapidamente o relatório, que levou a presidente do STF, Cármen Lúcia Rocha, a pedir com rispidez uma investigação minuciosa. A ministra do STF disse que a suposta espionagem é uma prática digna de ditaduras.

Status quo

Há muitas outras razões pelas quais parlamentares que enfrentam eleições no próximo ano poderiam querer abandonar Temer. Além do seu programa de austeridade altamente impopular, o índice de aprovação do presidente paira em um único dígito e ele acabou associado a um escândalo de corrupção que já trancou dezenas de executivos e políticos.

No entanto, muitos preferem o status quo devido à falta de consenso sobre uma substituição de Temer, a incerteza sobre o que um recém-chegado pode significar para a recuperação econômica e o medo de retaliação contra desertores.

“O pensamento de muitos parlamentares é assim: ’deixa eu ficar quieto porque o outro sabe de mim”, diz o senador José Medeiros (PSD-MT). “Vamos tirar Temer e colocamos quem em seu lugar?”, disse senador dada a falta de alternativas óbvias.

Os assessores de Temer ameaçaram retirar o apoio aos membros do PSDB nas eleições do próximo ano caso os tucanos abandonem a base, de acordo com um assessor presidencial que pediu para não ser nomeado porque as reuniões não eram públicas. Outros aliados são intimidados pela perspectiva de desafiar o PMDB, o maior partido do país.

“Ninguém quer pular do barco e depois ver que o navio não afundou e morrer afogado”, disse o deputado Covatti Filho (PP-RS).

Vladimir Caramaschi, estrategista-chefe do CA Indosuez, disse que qualquer alívio nos mercados em reação à decisão do tribunal eleitoral de sexta-feira “não será duradouro” devido a uma série de ameaças que o governo ainda enfrenta.

Após a alta do ano passado, os mercados acionários e de câmbio perderam algum vapor quando a administração de Temer enfrentou desafios crescentes para consertar os cofres públicos do país, incluindo um limite ambicioso para conter despesas previdenciárias.

Temer vem negando qualquer irregularidade e insiste que não renunciará. Mas ele corre o risco de ser implicado em novos escândalos. Além das alegações de espionagem veiculadas pela Veja, o presidente teve de admitir, na semana passada, que usufrui de um jatinho privado de propriedade do mesmo empresário que o acusou de encobrir e autorizar o pagamento de dinheiro sujo.

Também é alto o risco de delação de ex-assessores presos nas últimas semanas. Um deles é Rodrigo Rocha Loures, um parlamentar que os promotores suspeitam que teria atuado como operador criminal em nome do presidente. O temor é que Rocha Loures feche um acordo de delação premiada, oferecendo testemunho contra o presidente em troca da clemência, de acordo com um assessor presidencial que pediu anonimato.

“Haverá novas delações e novas empresas investigadas, isso cria incertezas que o mercado odeia”, disse Renato Nobile, CEO da Bullmark Financial Group. “O pessimismo está em alta entre os investidores”.

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