Notícia exclusiva por Josué Leonel com a colaboração de Carla Simões, Patricia Lara e Marisa Castellani.
Desde que Joaquim Levy começou a perder sua aura de superministro, em maio, o risco Brasil e o dólar aceleraram a alta que já vinham experimentando nos meses anteriores. Nesta manhã, notícias renovando os sinais de enfraquecimento do ministro da Fazenda levaram o dólar a passar de R$ 3,80 e os juros futuros a superar 15% em alguns contratos. O Tesouro cancelou um leilão de títulos, em sinal de que a rolagem da dívida começa a ser dificultada pela tensão no mercado.
Foi a 1ª vez que o Tesouro cancelou uma oferta de prefixados desde fevereiro de 2014. Para Carlos Kawall, ex-secretário do Tesouro e economista do Banco Safra, a decisão do Tesouro “tirou um pouco a pressão do mercado, mas não toda. Problema é que a pressão vem de uma crise séria, que tem elementos políticos”. Para Kawall, o Tesouro poderá ter de ofertar títulos mais curtos ou aumentar a oferta de LFTs, papéis pós-fixados aos quais o governo sempre recorre em épocas difíceis. “É o papel da crise.”
As especulações sobre o enfraquecimento de Levy, com jornais noticiando que ele sinalizou possibilidade de deixar a Fazenda se não tiver apoio, têm ajudado a amplificar o nervosismo do mercado. “A saída dele seria desastrosa”, diz Kawall, embora ele observe que, seja com a continuidade de Levy, seja com outro ministro, deve continuar difícil aprovar o ajuste fiscal no Congresso.
Luiz Eduardo Portella, sócio-gestor da Modal Asset, observa que a continuidade da turbulência no mercado pode levar o Tesouro a pagar juros maiores ou ter de encurtar o prazo dos títulos. A colocação de LFTs poderia trazer alívio, mas não seria a solução, que depende de uma saída para a crise político-econômica.
Além das especulações sobre o enfraquecimento de Levy, também a decisão do Copom de manter a Selic em 14,25%, embora esperada pela maioria dos analistas, ajudou a pressionar os juros futuros longos e o dólar hoje. Portella observa que uma parte do mercado achava que o BC deveria ter elevado a taxa para segurar o impacto da alta do dólar sobre a inflação.
Por ora, apesar da pressão, o Brasil não enfrenta risco de insolvência. A alta do dólar até ajuda o BC, que compensa a perda com swaps com os ganhos representados pelas reservas cambiais. Porém, no longo prazo, o País precisa frear a escalada dos gastos, que é incompatível com o desempenho da receita, sob risco de a capacidade de solvência do país ser questionada pelos investidores. “É preciso cair a ficha”, diz Kawall, repetindo frase dita por Levy.
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