Títulos corporativos europeus atingem taxas mínimas após Brexit

Por Katie Linsell.

As empresas europeias devem imensa gratidão a Mario Draghi.

Nunca foi tão barato captar em euros, mesmo após o tombo dos mercados depois que o eleitorado britânico votou pela saída da União Europeia. O rendimento médio dos títulos emitidos por companhias com grau de investimento e denominados em euros recuou para 0,9285 por cento na quarta-feira, o mais baixo da série do índice do Bank of America Merrill Lynch, iniciada em 1998.

Os esforços do presidente do Banco Central Europeu para estimular o crescimento da região fizeram dos títulos corporativos de alta qualidade um porto seguro em meio à tempestade causada pelo Brexit na semana passada. Os custos baixos de captação começaram a atrair empresas de volta ao mercado de títulos, após seis dias em que nenhuma emissão foi realizada, diante do referendo.

“Draghi é uma peça fundamental disso”, disse Fraser Lundie, um dos responsáveis por crédito na Hermes Investment Management, em Londres, que supervisiona 24,1 bilhões de libras esterlinas (US$ 32,5 bilhões) em ativos. “Há um comprador significativo levando uma enorme quantia de títulos desse mercado. Está sendo visto como um porto seguro.”

O BCE anunciou ter ampliado a compra diária de títulos corporativos para mais de 500 milhões de euros (US$ 556 milhões), comparado a 348 milhões de euros no primeiro dia do programa, em 8 de junho. A autoridade monetária comprou papéis de empresas como Volkswagen AG, Siemens AG (maior empresa de engenharia da Europa) e Anheuser-Busch InBev NV (maior cervejaria do mundo).

A Brown-Forman Corp. e a operadora ferroviária Deutsche Bahn AG estão oferecendo títulos em euros, um dia após a cervejaria Molson Coors Brewing Co. ter acabado com a paralisação das emissões corporativas ao colocar 800 milhões de euros no mercado.

Embora os tomadores de recursos se beneficiem das menores taxas em registro, o programa tem sido doloroso para investidores. O rendimento do título com prazo de 10 anos do governo alemão caiu para o menor nível histórico de menos 0,17 por cento no dia seguinte ao referendo no Reino Unido, que provocou uma corrida por segurança.

Taxas negativas

“Dependendo do que aconteça no mercado de títulos soberanos, teoricamente, o rendimento médio dos títulos corporativos poderia ficar negativo”, disse Lundie.

Aproximadamente 3,8 trilhões de euros em títulos com grau de investimento estão com rendimento abaixo de zero, comparado a 3,1 trilhões de euros no dia da votação e mais que o dobro da quantia de 1,8 trilhão de euros em papéis que pagavam taxas negativas seis meses atrás, de acordo com o índice Euro Broad Market do Bank of America Merrill Lynch, que inclui tomadores soberanos de recursos. O fenômeno significa que os investidores vão receber menos do que pagaram por um título.

O prêmio médio exigido pelos investidores para deter títulos corporativos com grau de investimento em vez de dívida pública encolheu para 136 pontos-base, comparado a 140 pontos-base no dia anterior.

Rendimentos baixos são especialmente problemáticos para seguradoras e fundos de pensão, que precisam obter rendimento de pelo menos 1 por cento para entregar o nível de retorno prometido aos detentores de suas apólices, explicou David Riley, que ajuda a supervisionar US$ 58 bilhões em ativos como estrategista de crédito da BlueBay Asset Management LLP, em Londres.

“Não é o patamar de rendimento com o qual os investidores de crédito estão acostumados, mesmo com os spreads a valor justo”, disse Riley. “Os investidores estão se perguntando se desejam assumir risco de crédito nesse nível. Isso está levando os investidores a buscar retorno em dívidas dos EUA e até de mercados emergentes.”

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