Títulos de dívida do Brasil à mercê de investigação 2º semestre

Por Filipe Pacheco.

O Brasil voltou com tudo ao mercado de títulos de dívida no exterior. Mas para alguns especialistas deste mercado, o país continua muito vulnerável ao seu imprevisível ambiente político.

Os papéis do governo emitidos no mercado local superaram aqueles de mercados emergentes neste ano, com retornos de 46 por cento em dólares. Dívidas de empresas como a Vale lideraram o rali depois que os investidores passaram a confiar que o governo recém-formado será capaz de tirar a economia da recessão mais longa em mais de um século.

Contudo, apesar de todo o otimismo, o presidente interino Michel Temer ainda enfrenta muitos desafios. Um dos maiores é o risco de o seu governo ser ainda mais envolvido na investigação de corrupção que começou na Petrobras. De maio, quando assumiu o lugar da presidente Dilma Rousseff, que enfrenta um julgamento de impeachment, até hoje, Temer viu três de seus ministros caírem por causa da investigação.

“A política continua sendo imprevisível ao olhar para o Brasil”, disse Bianca Taylor, analista e estrategista de títulos soberanos da Loomis Sayles & Co., que administra US$ 229 bilhões. “Todo mundo sabe que este é o principal risco e é difícil prever a que ponto as coisas poderão chegar”.

Temer, 75, tem também a difícil tarefa de reforçar as finanças do Brasil. Ele prometeu diminuir os pagamentos de pensões como parte do esforço para cortar gastos e reduzir o déficit orçamentário quase recorde.

A votação para a remoção permanente de Dilma da presidência também é iminente. Temer disse em 21 de junho que a votação final do impeachment deverá ocorrer até meados de agosto.

Contudo, com mais de US$ 9 trilhões da dívida soberana mundial rendendo menos que zero, o Brasil continua atraindo investidores, segundo Juan Carlos Rodado, diretor de pesquisa da Natixis North America para a América Latina. A taxa básica de juros do Brasil, a Selic, é a mais elevada entre as maiores economias, em 14,25 por cento.

“A mudança de governo é um avanço”, disse Carlos Rodado, de Nova York. “Com a busca atual por rendimentos, investidores estão felizes com a mudança”.

Os títulos em moeda local também estão recebendo impulso da valorização de 24 por cento do real neste ano, que inflou os retornos dos chamados investidores em carry-trade.

“De certa forma, o Brasil é uma história idiossincrática sem correlação com as considerações do Brexit”, disse Regis Chatellier, estrategista do Société Générale, em referência à volatilidade do mercado desencadeada pela decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia, em votação realizada na semana passada. No entanto, “os obstáculos políticos são o principal problema”.

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