Títulos do Tesouro dos EUA atraem demanda mais baixa desde 2009

Por Susanne Walker Barton.

A demanda nos leilões de títulos do Tesouro dos EUA caiu neste ano para o patamar mais baixo desde 2009, pois os operadores de Wall Street e os bancos centrais recuaram.

Investidores apresentaram lances por 2,8 vezes os quase US$ 2 trilhões de notas e bonds oferecidos pelos EUA, mostram dados compilados pela Bloomberg. A razão caiu frente ao valor de 2,99 no ano passado.

Embora a queda na demanda por dívida do governo mostre que talvez os efeitos da recessão estejam desaparecendo, ela constitui um sinal potencialmente alarmante para o Tesouro dos EUA. Como o Federal Reserve (Fed) está insinuando planos para elevar as taxas de juros quatro vezes no ano que vem, depois do primeiro ajuste das taxas quase zeradas feito neste mês, a menor quantidade de lances de dois sustentáculos do mercado de títulos do Tesouro americano, de US$ 13,1 trilhões, deixa o governo mais dependente dos compradores privados. O risco é que o apetite deles enfraqueça quando os responsáveis pela política econômica aumentarem os custos do crédito.

“É um primeiro sinal de alerta de que estamos começando a ver um declínio na demanda por títulos do Tesouro dos EUA” de forma mais ampla, disse David Keeble, diretor de estratégia de renda fixa do Crédit Agricole SA em Nova York. “2016 é um ano de não intervenção para o comprador do setor privado. Os bancos centrais estrangeiros são apoiadores. Os compradores do setor privado podem mudar com o vento”.

Duas frentes

As forças por trás do declínio nos lances são duas. Os 22 intermediários primários, que estão obrigados a ofertar nos leilões de títulos do Tesouro dos EUA, estão absorvendo a menor proporção das ofertas desde pelo menos 2006 em meio a normas de capital mais estritas. Enquanto isso, a China – o maior credor estrangeiro dos EUA – caminha para reduzir seus investimentos anualmente pela primeira vez na história, na tentativa de estimular sua moeda. A quantidade caiu cerca de US$ 200 bilhões neste ano até outubro, para menos de US$ 1,4 trilhão.

O governo também está vendendo menos dívida desde que seu déficit orçamentário caiu para o menor número desde 2007. Como as necessidades de financiamento estão diminuindo e o Tesouro está mudando o foco para as notas com vencimentos no curto prazo, a emissão líquida de notas e bonds poderia cair 27 por cento em 2016, segundo estimativas dos intermediários primários em uma pesquisa da Bloomberg publicada no mês passado. O registro de US$ 418 bilhões seria o mais baixo desde 2008.

Se a visão de consenso em Wall Street estiver certa, a redução da oferta não impedirá que os yields dos títulos do Tesouro dos EUA aumentem em 2016. Os yields para as notas de referência com vencimento em dez anos provavelmente subirão para 2,75 por cento daqui a um ano, o valor mais alto desde abril de 2014, em comparação com 2,25 por cento às 7 horas desta segunda-feira em Nova York, segundo a projeção média em uma pesquisa da Bloomberg com 65 analistas.

Novidade

Nas vendas de dívida deste ano, os investidores apresentaram lances por US$ 5,59 trilhões pelos títulos do Tesouro americano com juros, frente a US$ 6,55 trilhões em 2014, quando o ano completo de emissão chegou a US$ 2,19 trilhões. O registro deste ano não contabiliza a demanda pelas notas de taxa flutuante vendidas no dia 23 de dezembro nem os leilões agendados para a semana do dia 28 de dezembro.

O recuo dos operadores vem se desenrolando há alguns anos, mas o recuo dos compradores internacionais, encabeçados pela China, é um novo rumo.

Estrangeiros tinham US$ 6,05 trilhões em títulos do Tesouro dos EUA em outubro, cerca de US$ 110 bilhões a menos do que no final de 2014, mostram dados do Tesouro americano. Eles estão caminhando para reduzir seus investimentos em 2015 após terem dobrado os estoques desde 2008. A China, a segunda maior economia do mundo, diminuiu sua pilha na tentativa de apoiar o yuan. O cálculo inclui a dívida mantida na Bélgica, lugar onde, segundo os analistas, há contas de custódia chinesas.

“2016 é um ano em que provavelmente vejamos mais pressão sobre esses leilões, pois alguns dos agentes tradicionais” estão se afastando, disse Kevin Gidds, diretor de renda fixa da Raymond James Associates, em Memphis.

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