Traders independentes lucram com queda do petróleo em 2015

Por Javier Blas, Andy Hoffman e Laura Hurst.

Fotógrafo: Patrick T. Fallon/Bloomberg
Fotógrafo: Patrick T. Fallon/Bloomberg
 
Até mesmo no grupo mais unido do setor de energia eles são praticamente desconhecidos. Nas ruas de Genebra, Londres e Houston eles passam despercebidos. Contudo, alguns executivos foram o destaque do setor de petróleo em 2015. Eles prosperaram por causa da queda dos preços do petróleo, e não apesar dela.

Um exemplo é o Vitol, a maior operação independente de trading de energia do mundo. A empresa criada há 50 anos reportou um lucro líquido de US$ 1,6 bilhão no ano passado — o quarto maior da história, impulsionado, em parte, pelas estratégias empregadas pelas equipes lideradas por Mark Couling, operador-chefe para o setor do petróleo.

“O setor de negociação de petróleo como um todo desfrutou do melhor ano desde 2008-2009”, disse Damian Stewart, diretor-gerente da Human Capital, agência de recrutamento focada em commodities.

Os traders foram recompensados pelo aumento da volatilidade. Eles também capitalizaram agarrando-se ao petróleo bruto para tirarem vantagem do contango do mercado — uma situação na qual os preços dos contratos futuros são mais elevados que os preços atuais –, permitindo a eles comprar petróleo barato, armazená-lo em tanques para uma venda posterior e garantir o lucro por meio de derivativos.

A Vitol contratou um dos maiores navios-petroleiros do mundo, o Overseas Laura Lynn — uma embarcação de 380 metros de comprimento (equivalente ao Empire State Building deitado) capaz de transportar 3 milhões de barris de petróleo — para armazenar petróleo ao perto de Dubai. Concorrentes como a Glencore prosperaram contratando capacidade em terra em lugares como Santa Lúcia, no Caribe, e Baía de Saldanha, na África do Sul.

Lucro da Glencore

Outro exemplo é a Glencore, a maior trader de commodities do mundo. Embora a divisão de mineração da empresa tenha enfrentado dificuldades, o diretor de petróleo, Alex Beard, viu os lucros do trading de energia antes de juros e impostos subir para US$ 778 milhões no ano passado, 49 por cento a mais que em 2014. A empresa lucrou com a “alta volatilidade do mercado, o contango arraigado, o ambiente com uma margem de refino decente e retornos promissores sobre o frete dos navios-petroleiros”, disse a Glencore.

“A combinação de preços baixos e contango é ótima para os traders”, disse Olivier Jakob, diretor-gerente da Petromatrix, consultor de petróleo em Zug, Suíça. “Trata-se de um ambiente rentável”.

O fenômeno não se deu apenas nas casas independentes. Embora sejam mais conhecidas por seus campos de petróleo, refinarias e postos de combustíveis, a BP, a Royal Dutch Shell e a Total também estão entre as maiores traders de petróleo do mundo.

Estas empresas pouco revelam sobre o desempenho no ramo de trading, mas em fevereiro o diretor financeiro da BP, Brian Gilvary, deu uma mostra das riquezas de 2015. Ele disse que o braço interno de trading desfrutou de “um dos resultados mais elevados dos últimos tempos”.

Mas foi nas traders independentes de petróleo que o bom momento foi mais visível.

Na Trafigura, que tem sede em Cingapura, a equipe de trading de petróleo liderada por Jose Laroca teve seu melhor ano na história. O lucro bruto da empresa subiu 50 por cento, para US$ 1,7 bilhão, no período de 12 meses até setembro. Entre os outros traders de destaque estão Ben Luckock, diretor global de petróleo, e Rob Gillon, diretor global de destilados médios.

Ex-marine

Na Mercuria Energy Group, o diretor global de trading de petróleo Kurt Chapman — um ex-marine formado em economia pela Universidade de Harvard — teve seu melhor ano desde 2009, segundo uma pessoa informada sobre o assunto. Supervisionando uma equipe de cerca de 10 pessoas em Genebra e colegas posicionados por todo o globo, Chapman lucrou com oportunidades de armazenagem e com a volatilidade do preço, em particular no petróleo do Mar do Norte, disseram eles.

Como sempre, contudo, cada trader começou 2016 com uma lousa em branco e este ano poderá ser mais desafiador. O contango, por exemplo, está diminuindo. E a volatilidade não é tão alta. Contudo, apesar dos obstáculos, Ian Taylor, CEO da Vitol, disse: “As oportunidades no mercado físico continuarão existindo”.

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