As tramas dos principais advogados de Wall Street em Versailles

Por Greg Farrell e Keri Geiger.

Trata-se de um clube de Wall Street praticamente desconhecido em Wall Street. Não tem nome nem sócios oficiais e só se reúne uma vez por ano, em locais como o Lago Lucerna, na Suíça, o condado de Litchfield, no estado americano de Connecticut, e, neste ano, em Versailles.

Os participantes são os principais advogados internos de alguns dos bancos mais poderosos do mundo. Gente que se senta à mesa para tomar decisões capazes de se transformarem em contas de litígio de bilhões de dólares para instituições como Barclays, Citigroup, Goldman Sachs, Deutsche Bank e JPMorgan Chase.

O encontro deste ano foi realizado no final de maio no Trianon Palace Versailles, hotel de luxo localizado a menos de 2 quilômetros do palácio de Luís XIV e adjacente ao parque real.

As reuniões, descritas por pessoas que pediram para não serem identificadas, costumam ser marcadas por discussões em torno de questões práticas, como gestão de relacionamentos com a diretoria e se as equipes responsáveis pela conformidade com os regulamentos devem receber ações como incentivo.

Mantendo a união

Neste ano, segundo duas dessas pessoas, alguns chegaram ao hotel revestido de mármore e ornamentos para falar de um mal comum: advogados que representam grupos e exigem bilhões de dólares de grandes bancos ao acusá-los de manipulação dos mercados e má conduta. Eric Grossman, diretor jurídico do Morgan Stanley, implorou a seus confederados que dessem as mãos e resistissem à tentação de entrar em acordo rapidamente.

Meses antes, o principal advogado do Citigroup, Rohan Weerasinghe, havia tomado uma decisão que basicamente obrigou os maiores bancos do mundo a pagar US$ 1,9 bilhão para encerrar um processo coletivo envolvendo credit-default swaps. Investidores, incluindo a associação que representa os funcionários públicos que se aposentaram pelo condado de Los Angeles, alegam que os bancos agiram em conjunto para limitar a concorrência e assim lucrar mais.

Quando diversos bancos são alvo de um processo coletivo, o compartilhamento de informações e a coordenação de estratégias de defesa são comuns. Mas após anos de prática, os advogados que movem esses processos encontraram uma maneira de fraturar essas alianças. Eles fecham acordo com um banco e então intensificam a pressão sobre os demais. Cada banco sabe que o último a entrar em acordo provavelmente pagará a conta maior. Isso ocorre devido a uma teoria jurídica segundo a qual uma empresa com culpa parcial pode ser responsabilizada por todos os danos.

No caso dos swaps, o Citigroup deu o primeiro passo e concordou em pagar US$ 60 milhões em meados de 2015. Outros bancos seguiram seus passos e o JPMorgan Chase, último a fazer o acerto, terminou com uma conta de US$ 595 milhões. O medo dos bancos era a possibilidade de a União Europeia abrir uma investigação de caráter antitruste sobre o mercado de swaps, o que poderia trazer à tona evidências que então ficariam disponíveis para a acusação no processo coletivo. A União Europeia acabou encerrando o caso. Talvez fosse melhor para os bancos que tivessem esperado.

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