Transição de poder no México significa cautela para investidores

Por Aline Oyamada e Justin Villamil

Investidores habituados a acompanhar a reação dos ativos mexicanos às declarações de Andrés Manuel López Obrador vão encarar mais cinco meses dessa rotina.

A distância atípica entre a eleição e a transição de poder no México significa que os mercados estarão obcecados com as palavras frequentemente contraditórias do próximo presidente, sem saber até a posse em 1º de dezembro o que de fato ele pretende implementar.

Essa dinâmica deve intensificar a volatilidade dos mercados do país, que tiveram uma queda moderada após a vitória de López Obrador com ampla margem de votos no domingo, o que também trará muitos de seus aliados para o Congresso. Agora, os investidores precisam entender se o polêmico político de esquerda vai mesmo adotar as medidas desfavoráveis ao mercado que defendeu durante a campanha – como paralisar um projeto aeroportuário de US$ 13 bilhões e ampliar agressivamente os gastos sociais – ou se sua abordagem será mais equilibrada.

“O viés é o câmbio voltar para 21 pesos por dólar”, disse Alvise Marino, estrategista do Credit Suisse em Nova York, ressaltando que a projeção presume cenário global ainda desfavorável para os mercados emergentes.

A coalizão de López Obrador (conhecido pelas iniciais AMLO) pode controlar Senado e Câmara de Deputados. Já foram contados metade dos votos e, aparentemente, a coalizão terá três quintos dos assentos na Câmara e aproximadamente 70 dos 128 assentos no Senado. Os dados finais ainda podem levar alguns dias.

Para o estrategista multimercados do UBS, Esteban Polidura, os investidores precisam se manter atentos aos diversos riscos. “Nossa perspectiva de médio prazo segue cautelosa”, escreveu Polidura em relatório. “A maioria dos potenciais integrantes do governo AMLO tem experiência limitada no setor público e a curva de aprendizado deles pode ser mais demorada do que o normal, o que pode pesar sobre o crescimento econômico.”

Por ora, nem uma queda intensa dos mercados nem uma rápida recuperação são consideradas prováveis. As ações cambalearam no segundo trimestre e o peso se depreciou à medida que as pesquisas de intenção de voto apontavam vitória de López Obrador, de modo que a eleição dele já estava contemplada nos preços dos ativos. Otimistas sugerem que as decisões do próximo presidente não serão tão radicais quanto ele prega em seus discursos contra os abusos do capitalismo. Porém, até ele assumir o cargo, não haverá qualquer certeza.

As principais preocupações envolvem as promessas de López Obrador de elevar os gastos sociais e a postura dele em relação ao investimento estrangeiro no setor energético e o comércio com os EUA. Alguns temem reversão das medidas de privatização no setor energético e o endividamento gerado pelos gastos para ajudar os pobres.

“Durante o período de transição, os mercados financeiros podem ficar atipicamente voláteis e nervosos”, escreveu Jaime Reusche, analista da Moody’s Investors Service. Um risco importante é que a “incerteza em torno da política econômica do próximo governo abale a confiança dos empresários, prejudicando os investimentos e as perspectivas de crescimento.”

No discurso após a vitória, o presidente eleito de 64 anos quis transmitir união e afirmou que seu governo dará preferência aos pobres. Carlos Urzua, escolhido para o Ministério da Fazenda, afirmou que o novo governo terá responsabilidade fiscal e respeitará a autonomia do banco central e o regime de câmbio livre.

“As primeiras indicações de AMLO são razoavelmente animadoras”, escreveu Edward Glossop, economista em Londres da Capital Economics. “Mas além do curtíssimo prazo, vale alertar que ainda há pouca clareza sobre as políticas econômicas de AMLO.”

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