Transporte marítimo não vai tão bem quanto parece desde o espaço

Por Alex Longley.

Para um setor que está perdendo dinheiro em quase todas as transações, as transportadoras de commodities do mundo estão muito ocupadas embarcando toda a carga que conseguem levar.

Do espaço, onde satélites monitoram as movimentações dos navios, parece que o mercado está em expansão, segundo dados compilados pela Bloomberg. Nos gigantescos terminais de embarque de minério de ferro do Brasil e da Austrália, milhões de toneladas são acomodadas a cada mês em navios que vêm e vão como um relógio. Ao longo das costas da China, de Cingapura e até mesmo da Grécia, o quadro é o mesmo: pouca espera.

Mas todo esse movimento é consequência da fragilidade, não um sinal de força. Os preços das commodities e a demanda estão baixas demais, as tarifas de frete dos maiores navios não cobrem nem um quarto do custo de suas tripulações. Embora as proprietárias normalmente deixem os navios ociosos quando a maré está baixa no setor, esperando gerar uma recuperação das tarifas, a perspectiva desta vez é tão sombria que muitos entendem que o melhor é seguir fazendo negócios. Do contrário, correm o risco de perder participação de mercado e não ganhar nada.

“É um cenário bizarro”, disse Simon Francis, fundador da G-Ports, empresa com sede em Penryn, Inglaterra, que monitora as filas de navios há uma década. “Não parece haver tanta espera por cargas” apesar de o setor estar “de joelhos”, disse ele.

Construção de navios

Pela primeira vez desde o início dos anos 1990, o comércio combinado de carvão e minério de ferro caminha para dois anos seguidos de contração, projeta a Clarkson Research, que faz parte da maior corretora de navios do mundo. Quase todos os tipos de transportadoras de commodities ficarão sem lucro neste ano e ganharão quase nada em 2017, segundo projeções de analistas e números do ponto de equilíbrio do setor compilados pela Bloomberg.

A crise atual é causada pela explosão da construção de navios que duplicou a capacidade da frota no período de sete anos até dezembro, que incluiu um mercado otimista quanto aos preços das commodities devido ao aumento da demanda global. As armadoras aumentaram as encomendas de navios novos quando as taxas atingiram um nível recorde de 2007 a 2009, apostando que o crescimento econômico próximo de dois dígitos da China daquela época continuaria. Foi uma aposta ruim. Em vez de acelerar, a segunda maior economia do mundo está crescendo ao menor ritmo em 25 anos.

Escolha difícil

Em sua luta contra o excesso de oferta, as armadoras estão destruindo navios antigos a um ritmo sem precedentes. Um recorde de 88 navios graneleiros capesize foi desmantelado no ano passado e 14 já haviam sido desarmados no final de janeiro deste ano, segundo a GMS, que compra navios destinados à demolição. Pode não ser o bastante. Os estaleiros de demolição naval teriam que desmantelar mais de três vezes o total do ano passado para estabilizar as tarifas de frete, segundo Herman Hildan, analista de ações do setor de navegação da Clarksons Platou Securities em Oslo.

As armadoras sobrecarregadas com mais navios do que necessitam enfrentam um dilema: deixar os navios à espera em grandes portos na esperança de que as taxas subam ou carregar um navio de forma deficitária. Por enquanto, muitas estão escolhendo a segunda opção.

Embora muitos navios permaneçam ociosos, a maioria está em movimento. A espera média perto de Port Hedland, na Austrália, era de quatro dias para 80 navios capesize que se preparavam para embarcar minério de ferro, segundo dados compilados pela Bloomberg. Na costa brasileira, era de cinco dias para 36 navios. Entre os navios monitorados perto da China, a média era de dois dias.

“Parece que não há nem sequer uma luz no fim do túnel”, disse Hildan, por telefone. É possível que os maiores navios do setor atinjam o ponto de equilíbrio novamente apenas em 2018, acrescentou.

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