Trégua na guerra cambial desde reunião do G-20 pode terminar

Por Mark Gilbert.

O mercado de câmbio é famoso pelos exageros. Uma moeda que começa a se mover em uma direção que acompanha as mudanças nos fundamentos frequentemente chega a um nível que não pode ser justificado pelos dados. Assim, tentar mexer na matriz dos valores das moedas é como tentar determinar as forças do além. É o que parece ter acontecido desde que a reunião do Grupo dos 20 em fevereiro em Xangai produziu uma trégua tácita na guerra cambial.

Suspeitas de que os ministros das Finanças tinham concordado em fevereiro em suspender comentários que gerassem depreciação de suas moedas pareciam confirmadas pela queda do dólar de mais de 6 por cento desde o auge de 20 de janeiro. As recentes medidas da China para aumentar a taxa de referência do yuan para o maior patamar no ano também respaldaram a impressão de suspensão das hostilidades.

Mas enquanto a indústria dos EUA temia que o dólar forte demais ameaçasse suas exportações e lucros, a mudança de rumo recente e os ganhos do euro e do iene representam riscos maiores para as economias da Europa e do Japão, que continuam em apuros. O euro, por exemplo, passou de US$ 1,16 na terça-feira, chegando ao nível mais alto desde agosto. Já o iene atingiu 106 por dólar, vindo de 122 em janeiro.

Esses são os tipos de movimentos que preocupam as autoridades monetárias – especialmente quando já lutam contra a deflação, caso do Banco Central Europeu e do Banco do Japão. A surpreendente decisão da Austrália de cortar as taxas de juros, que depreciou sua moeda em relação às divisas de todos os seus 31 grandes parceiros comerciais, é um sinal de que os tiros podem voltar, afirmou em relatório o estrategista Marcus Ashworth, da Haitong Securities, em Londres.

A fábrica de boatos trabalha incansavelmente, apesar das negativas oficiais, produzindo rumores de que o chamado acordo do G-20 em Xangai, que tinha o objetivo de pacificar os mercados e acalmar os ânimos entre os países integrantes, não impediu que as relações internacionais continuassem tão tóxicas quanto antes. O acordo de Xangai deveria acabar com o círculo vicioso e, assim, evitar uma forte desvalorização do yuan. No entanto, o objetivo era restringir o fortalecimento do dólar — e não revertê-lo de forma abrupta.

O Departamento do Tesouro dos EUA, na sexta-feira, apresentou uma nova ‘lista de monitoramento’ das atividades do mercado de câmbio como parte da Lei de Facilitação e Fortalecimento do Comércio de 2015. Há três critérios para a classificação de atenção especial: um ‘significativo’ superávit comercial com os EUA, um superávit ‘substancial’ em conta corrente e ‘persistentes intervenções unilaterais no mercado de câmbio’. Cinco países entraram na lista ao ativar dois alertas – China, Japão, Coreia do Sul, Taiwan e Alemanha –, mas o Tesouro afirmou que nenhum “cumpriu todos os três critérios no momento”. O relatório, no entanto, apontou o dedo para as políticas cambiais dos quatro primeiros países.

A redução das apostas de que o Federal Reserve vai aumentar as taxas de juros já em junho não ajuda o dólar. O mercado de futuros atualmente antecipa apenas 10 por cento de chance de elevação no mês que vem, comparado a 40 por cento de probabilidade há um mês. Só se vê probabilidade acima de 50 por cento para a alta dos juros nos EUA em dezembro.

Está claro que o Tesouro americano não quer que o dólar volte a subir. Mas também está claro que fracassou a tentativa de restringir o mercado cambial à inércia e que as perspectivas de inflação tanto na zona do euro quanto no Japão estão se deteriorando. O ambiente parece propício para a retomada das hostilidades, fornecendo outro motivo para pessimismo em relação à recuperação econômica global.

Essa coluna não reflete necessariamente a opinião da equipe editorial ou da Bloomberg LP e seus proprietários.

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