UE estuda negociar comércio com Reino Unido antes de obrigações

Por Nikos Chrysoloras e Dara Doyle.

Governos europeus podem dar cobertura política à primeira-ministra britânica, Theresa May, ao permitir que as negociações sobre o Brexit abordem o comércio antes que os dois lados entrem em acordo a respeito de uma legislação específica para a saída do Reino Unido da União Europeia, segundo duas pessoas com conhecimento do plano.

Tal concessão permitiria que May iniciasse o engajamento com a UE para chegar ao acordo “ambicioso” que ela deseja em uma cúpula de líderes em 14 de dezembro, de acordo com uma das fontes. Até lá, estarão empossados os novos governos da Alemanha e da França. O perfil exato da proposta pode não ser decidido até o fim das negociações, logo antes da data do Brexit em si, segundo informação passada por um diplomata da UE nesta sexta-feira.

As 27 nações do bloco queriam que o Reino Unido acertasse suas obrigações financeiras antes de começar a conversar sobre comércio. Porém, esses países reconhecem que uma soma substancial dificultaria a manutenção do apoio, dentro do Reino Unido, por parte dos que defenderam o Brexit mais arduamente. Em vez disso, os negociadores tentarão chegar a uma fórmula para calcular obrigações e deixar a quantia para depois, segundo essas pessoas, que pediram anonimato porque a estratégia de negociação não é pública.

A exigência da UE que o Reino Unido pague todas as contas pendentes referentes à sua associação ao bloco ainda pode ser um dos assuntos mais tóxicos da negociação. No sábado, líderes continentais reunidos em Bruxelas devem aprovar diretrizes gerais para as conversas. Um esboço das diretrizes defende explicitamente que o Reino Unido respeite suas “obrigações” durante todo o período de associação.

“Nós não vamos discutir nossas relações futuras com o Reino Unido até atingirmos progresso suficiente nos principais temas relativos à retirada do Reino Unido”, afirmou o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, em carta aos líderes do bloco que foi divulgada nesta sexta-feira. Essa abordagem em estágios “não é somente uma questão de tática, mas – diante do cronograma limitado que temos para concluir as conversas – é a única abordagem possível”.

Líderes da UE aventaram a possibilidade de 60 bilhões de euros (US$ 65 bilhões), mas a conta pode sair mais cara se eles tentarem prorrogar os pagamentos para além da data de saída do Reino Unido, em março de 2019. O governo May declarou estar disposto a aceitar um “acordo justo”, mas questionou o tamanho e legitimidade de uma conta e sinalizou que tentará recuperar uma parcela dos ativos da UE. O desafio para May é que a falta de progresso na direção de um acerto financeiro pode levar a UE a se recusar a discutir o acordo comercial que ela deseja.

Decidir se houve ou não “progresso suficiente” para permitir a discussão da relação futura será uma posição de caráter político pelos 27 líderes da UE, segundo revelado por outra autoridade do bloco a repórteres em Bruxelas na sexta-feira. Se tudo correr bem, a decisão poderá ser tomada até o fim deste ano, segundo a pessoa, que pediu para não ser identificada, em obediência ao regimento interno.

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