UE leva vantagem com aumento das tensões comerciais do Brexit

Por Dara Doyle.

Diante da proximidade das negociações do Brexit, o discurso começa a se inflamar.

Em Estrasburgo, França, o principal negociador da União Europeia, Michel Barnier, rebateu na quarta-feira a exigência da primeira-ministra Theresa May de começar rapidamente as negociações que visam a chegar a um acordo de livre comércio “ousado e ambicioso”. O secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, Boris Johnson, afirma que o país vai “mais que sobreviver” sem um acordo.

Então, com o cenário montado para dois anos de negociações que prometem ser inéditas em termos de magnitude e complexidade, quem está em posição de vantagem? E quem tem mais em jogo na tentativa de chegar a um acordo?

Partidários do Brexit argumentam que a UE tem motivos de sobra para assinar um acordo porque o bloco tem um superávit de bens com o Reino Unido — um recorde de 96 bilhões de libras (US$ 120 bilhões) no ano passado. No entanto, em termos de importância relativa, a UE é muito mais relevante para o Reino Unido que vice-versa.

“A balança de poder nessa negociação pende muito mais para o lado da UE do que para o lado do Reino Unido”, disse Guntram Wolff, diretor do think tank Bruegel, com sede em Bruxelas. “O debate britânico aqui é cego e frequentemente se concentra na questão do superávit e do déficit e, sinceramente, esta não é a principal variável. O que conta para os eleitores de cada país é o volume total das exportações, não os excedentes.”

Em dólares, quase 50 por cento das exportações do Reino Unido vão para a UE, de acordo com dados do Fundo Monetário Internacional. Isso é quase US$ 200 bilhões anualmente. Em contraste, apenas 6 por cento das exportações da UE vão para o Reino Unido. A Alemanha compra 11 por cento das exportações do Reino Unido, mas o Reino Unido responde por apenas 7 por cento das remessas alemãs.

Se o Reino Unido de fato sair da UE sem um acordo comercial, seus exportadores ficarão expostos às tarifas da Organização Mundial de Comércio após anos de transações sem impostos. John Kerr, o diplomata veterano que esboçou os procedimentos jurídicos para sair da UE, considera que a chance de um Brexit sem acordo é de mais de 30 por cento.

Dentro da UE, no entanto, distintos interesses podem estar em jogo. A Irlanda, por exemplo, deseja que os vínculos futuros continuem o mais parecido possível com os atuais, e é fácil ver o porquê.

Embora a dependência irlandesa em relação a seu vizinho mais próximo tenha diminuído nos últimos anos, o Reino Unido continua sendo um mercado fundamental. Cerca de 11 por cento das exportações irlandesas vão para o Reino Unido. Holandeses e belgas também têm muito em jogo, e o Reino Unido vai querer apelar para esses países na tentativa de garantir um acordo favorável. Contudo, como apenas 6 por cento das exportações francesas vão para o Reino Unido, o novo presidente da França, seja quem for, poderá se dar ao luxo de ser mais linha-dura com os britânicos.

No fim das contas, no entanto, é provável que um acordo seja do interesse de todos.

“Se não houver um acordo, as consequências serão pesadas, especialmente para o Reino Unido, mas também para a União”, disse Barnier aos legisladores em Estrasburgo.

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