Por Jonathan Levin.
O mercado de IPO do Brasil está morto.
Antes o mercado emergente mais aquecido para aberturas de capital após o da China, a maior economia da América Latina já não está sequer entre os 15 maiores. O único IPO do país neste ano — da FPC Par Corretora de Seguros SA — captou apenas US$ 229 milhões. O total é menor que o levantado em mercados, como Polônia ou Trinidad e Tobago, e não chega a 1 por cento do montante de 2007, auge da época de rápido crescimento do Brasil. Outras três candidatas à emissão — todas apoiadas pelo Estado — abandonaram os planos de abrir o capital em 2015.
Trata-se de uma reviravolta drástica para um país que um dia foi destino obrigatório para os investidores estrangeiros que buscavam aproveitar as enormes descobertas de petróleo, as crescentes exportações agrícolas e a promissora base de consumidores, a segunda maior do continente americano. Atualmente, as empresas brasileiras têm uma probabilidade maior de fechar o capital do que de abrir, pois um abrangente escândalo de corrupção, uma recessão paralisante e uma turbulência política eliminaram US$ 290 bilhões em valor de mercado apenas neste ano.
“Nós passamos por cenários ruins antes, como a crise global de 2009, mas esse problema é totalmente brasileiro – a gente o criou”, disse Fausto Gouveia, gestor de recursos da AZ Legan, que supervisiona cerca de R$ 1 bilhão (US$ 260 milhões). “A janela dos IPOs está fechada e eu não vejo uma mudança nisso no ano que vem”.
Recessão e desemprego
Nos mercados emergentes, o valor dos IPOs caiu 27 por cento neste ano, para US$ 48 bilhões, porque a queda das commodities e o fantasma do aumento das taxas de juros nos EUA levam os investidores a fugirem dos ativos de maior risco.
O colapso do Brasil foi especialmente impressionante. A projeção é que a economia encolha quase 3 por cento neste ano, seguida por uma contração de 1,2 por cento em 2016, o que seria a recessão mais longa desde a Grande Depressão. Além disso, o desemprego subiu para 7,6 por cento e a inflação está perto de 10 por cento. Tudo isso fez o Ibovespa cair 36 por cento neste ano em dólares, maior declínio entre os principais índices acionários do mundo.
Até este mês, banqueiros e emissoras tinham esperanças de que algumas transações ainda fossem realizadas antes do fim do ano. Mas, nos últimos 30 dias, as empresas de seguros Caixa Seguridade Participações SA e IRB Brasil Resseguros SA adiaram seus planos, essa última segundo uma fonte informada sobre o assunto que pediu anonimato por discutir assuntos privados.
Bancos de investimento
A BR Distribuidora, unidade de distribuição de combustíveis da pressionada gigante estatal petrolífera Petrobras, também adiou uma venda, disse uma fonte. A Petrobras disse em um comunicado que está buscando um parceiro estratégico para o negócio.
A Par Corretora, que realizou o único IPO do ano, caiu 18 por cento desde sua estreia, em junho, ou 33 por cento em dólares, segundo dados compilados pela Bloomberg.
A crise atingiu duramente os banqueiros de investimentos de São Paulo. Bancos estrangeiros, incluindo o UBS AG e o Barclays Plc, reduziram suas equipes brasileiras a partir de 2013. Outro dos principais negócios dos bancos no Brasil — fusões e aquisições — deverá registrar o pior ano em uma década. Talvez o único segmento com crescimento no setor de banco de investimento do país seja o de reestruturação. A Rothschild Co. e a G5 Evercore fazem parte do grupo que está contratando banqueiros em um momento em que as empresas enfrentam dívidas externas tomadas durante os anos de expansão da última década, segundo duas fontes informadas sobre o assunto.
É improvável que o mercado de IPO se recupere em breve porque os investidores cautelosos continuarão evitando novos negócios e favorecendo oportunidades melhores e menos especulativas em ações que já são negociadas, disse Marcio Guedes, banqueiro de investimento da Pangea Partners, de São Paulo.
“Qualquer um que esteja interessado no Brasil vai olhar para o mercado de ações, e não para os IPOs”, disse Guedes. “Como posso justificar a compra a um preço que, na verdade, está mais elevado que o que eu consigo obter na bolsa?”.
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