Uma lição da Grécia: Cuidado com os profetas da prosperidade

Por Charles Kenny.

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Fotógrafo: Tomohiro Ohsumi/Bloomberg

Em 2010, quando a Grécia assinou um acordo de resgate com o FMI, as previsões dessa instituição e da Comissão Europeia indicavam que a razão entre a dívida e o PIB do país atingiria seu pico abaixo de 150 por cento do PIB em 2012. Elas também projetaram que o PIB grego em 2015 seria 8 por cento maior do que em 2011. Essa perspectiva otimista do futuro se baseava em hipóteses subjacentes de que a Grécia passaria de ter o crescimento da produtividade mais baixo na zona do euro a ter um dos mais altos, junto com as maiores taxas de participação da força de trabalho e níveis de emprego iguais aos da Alemanha.

Ninguém – nem o FMI – acredita mais nessas hipóteses. As últimas estimativas sugerem que o PIB grego será 10 por cento mais baixo que em 2011. Por que esses primeiros prognósticos eram tão favoráveis? Acontece que o FMI, a UE e outras instituições têm a tradição de fazer previsões exageradamente otimistas em épocas de crise. Lidar com essa propensão reduziria significativamente os estragos causados por futuras crises financeiras.

A dívida cresce quando as economias cambaleiam. Utilizando uma amostra de países em desenvolvimento, Bill Easterly, economista da Universidade de Nova York, mostrou em um artigo acadêmico recente que o ritmo de crescimento está fortemente associado aos níveis de dívida. Ele sugeriu que as economias em desenvolvimento que tiveram um crescimento acelerado entre 1975 e 1994 observaram um aumento de 1 por cento anual na razão entre dívida e PIB.

Por outro lado, os países que passaram por uma queda nas taxas de crescimento, observaram um aumento muito mais rápido da razão – entre 3 por cento por ano para aqueles que tiveram desacelerações modestas e 7 por cento para os que sofreram os declínios mais acentuados. Em sua análise, Easterly demonstrou como o mesmo padrão se aplicava a países na zona do euro depois da crise financeira.

Excesso de otimismo

Ao mesmo tempo, ele mostrou que os países com crises de dívida são propensos a previsões de crescimento especialmente otimistas. Assim como as que o FMI e a Comissão Europeia fizeram para a Grécia, o Banco Mundial e o FMI elaboraram previsões de crescimento para esses países a fim de antecipar a sustentabilidade da dívida. Easterly descobriu que as projeções para países pobres muito endividados na década de 1990 e no começo da década de 2000 eram sempre excessivamente otimistas nas estimativas – e previam um crescimento com um exagero médio de 1 por cento por ano.

Os pesquisadores do FMI concordam com ele: Hans Gemberg e Andrew Martinez, da Secretaria de Avaliação Independente do fundo, sugerem que as previsões da organização “tenderam a ser otimistas de forma constante e excessiva em épocas de recessões nacionais, regionais e mundiais”.

Em uma análise das previsões de gastos dos governos como porcentagem do PIB feitas pela Comissão Europeia, António Afonso e Jorge Silva, da Universidade de Lisboa, concluíram que a comissão tinha projetado de modo similar e sistemático razões entre gastos do governo e PIB mais baixas do que as que acabaram ocorrendo. As previsões a um ano feitas pela comissão erraram por uma média de 0,4 por cento do PIB no período 1999-2011 – e cerca de 84 por cento do erro se deveu ao excesso de confiança em relação às taxas de crescimento do PIB.

A imprecisão otimista sobre a situação fiscal dos governos alimentou previsões da razão entre PIB e dívida dos governos com o mesmo otimismo exagerado. Como no caso do FMI, as projeções da comissão foram particularmente distorcidas para Grécia, Irlanda e Portugal – os países em crise que receberam apoio do FMI e da União Europeia.

Se a Grécia, a Europa e o FMI tivessem aceitado dar um lugar a previsões externas e independentes de crescimento em vez de prepará-las por conta própria, talvez eles tivessem conseguido montar um pacote de ajuda mais sustentável antes, em vez de adiarem o problema – e a recuperação da Grécia. Isso também se aplica a muitas outras discussões sobre dívidas – e o problema persistirá enquanto as pessoas que fazem as previsões não deixarem de ter todos os incentivos para usar uma bola de cristal com lentes cor-de-rosa.

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